António Pinto da Costa Paulo – O piloto dos 7 ofícios.
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Texto e fotos da responsabilidade de www.motorizadas50.com |
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L António Pinto da Costa Paulo foi uma das pessoas mais participativas no motociclismo nacional. Ao longo dos seus mais de 70 anos de idade esteve mais de 50 anos ligado activamente aos desportos motorizados. Foi piloto, mecânico, comerciante de duas rodas, organizador de provas desportivas, dirigente desportivo, comissário desportivo, director de provas e foi ainda o criador de uma das motorizadas mais famosas da indústria nacional de duas rodas, a Famel XF 17. António Pinto da Costa Paulo nasceu a 28 de Agosto de 1936 na bonita cidade de Vila Real. Em 1947, então com onze anos de idade, dá-se a sua entrada no mundo do motociclismo, tornando-se aprendiz de mecânico na Garagem Loureiro, propriedade do seu padrinho de baptismo. Cinco anos mais tarde, em 1952, muda-se para a Garagem S. Cristóvão. Em 1953 e com apenas 17 anos de idade recebe um convite inesperado para participar numa prova de motociclismo na cidade de Peso da Régua. Apenas teria de se deslocar lá e correr gratuitamente aos comandos de uma Famel Victoria com motor de 2 velocidades no punho. Para os pais não saberem que ia correr, almoçou em casa no dia da prova e da parte da tarde deslocou-se numa bicicleta emprestada de Vila Real a Peso da Régua a fim de tomar parte na corrida! O mais complicado foi no final do dia para entrar em casa, pois trazia consigo duas belas taças de participação, a do 4º classificado na geral e a do 1º classificado do Distrito! Foi igualmente nesta corrida que realizou os primeiros contactos com responsáveis da Famel, contactos esses que se vêm a mostrar muito importantes no futuro. De 1954 a 1988 participou regularmente em diversos campeonatos de motociclismo e em provas de perícia em automóvel, conquistando cerca de 142 taças e troféus. Ao longo da sua carreira correu por todo o pais e também fez provas a nível internacional. A nível nacional correu nos seguintes circuitos: Vila Real, Diogo Cão, Pioledo, Calvário, Casa dos Magistrados, Circuito do Mercado Municipal, Circuito Internacional de Vila Real, Autódromo do Estoril, Vila do Conde, Bragança, Mogadouro, Valpaços, Chaves, Amarante, Vila Meã, Aparecida, Penafiel, Paredes, Felgueiras, Caldas das Taipas, Guimarães, Barcelos, Mindelo, Santa Isabel, S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Águeda, Coimbra, Cascais, Mira – Tejo, Oeiras, Santo André – Sines, Sátão-Viseu e na rampa de S. Lourenço.
A nível Internacional participou em provas em Espanha.
Em 1965 estabeleceu-se com casa própria na rua Marechal Teixeira Rebelo, nº 29 e 31, em Vila Real. O seu estabelecimento comercial vendia ciclomotores, bicicletas, motores de rega e atomizadores, prestando-lhes a devida assistência. Foi um início complicado para Costa Paulo que dispôs inicialmente de uma pequena verba para abrir o estabelecimento. No início da década de 70, Costa Paulo cria um protótipo de competição com base num quadro Flandria original bastante modificado. Esse quadro foi equipado com motor Zundapp de 5 velocidades. Estava assim criado o primeiro protótipo da Famel XF17. A motorizada apresentava uma linha muito desportiva e um comportamento exemplar. Tendo consciência que se este protótipo fosse fabricado em série seria um grande sucesso, Costa Paulo contactou a Famel, empresa com a qual mantinha bons contactos. O protótipo foi deixado nas instalações da Famel a fim de serem calculados os custos de uma eventual produção em série. Valente de Almeida concluiu não ser viável a produção da XF17, pelo que exigiu uma garantia de venda de 100 unidades a fim de pelo menos pagar os custos com a ferramentaria. Costa Paulo e o conterrâneo José Ribeiro da Costa asseguraram a compra das 100 motorizadas e a Famel produziu as XF 17 com carburador Dellorto. Contrariamente ao que pensava Valente de Almeida as motorizadas venderam-se rapidamente e a Famel decidiu produzir a Xf 17 em série. Por imposição da Zundapp os restantes modelos produzidos tiveram de receber o carburador alemão da Bing. A XF 17 produziu-se durante mais de 20 anos, contudo, Costa Paulo não recebeu qualquer verba pela autoria da XF17! Apenas conseguiu ficar com a representação da Famel no distrito, em parceria com José Ribeiro da Costa. Nem o próprio Costa Paulo imaginou o sucesso que o seu invento iria atingir. Todos os meses eram descarregados à porta da sua oficina centenas de motorizadas XF17 que pouco tempo depois eram vendidas. Costa Paulo realizou ainda um outro protótipo, desta vez de motocross, que foi igualmente entregue à Famel para serem calculados todos os custos de produção. Infelizmente este protótipo nunca chegaria a ser produzido em série. Mais uma vez foi considerada inviável a sua produção. Costa Paulo correria bastantes anos aos comandos da “sua” Famel XF17, tornando-se piloto de fábrica da marca de Águeda. O patrocínio era pago em material, num total de 350 contos anuais. Como Costa Paulo tinha um stand e oficina de ciclomotores, o material era totalmente vendido e permitia um encaixe financeiro interessante. Depois das corridas aos comandos da XF17, Costa Paulo adquiriu uma Derbi e foi com ela que realizou as suas primeiras internacionalizações. O seu melhor resultado foi o melhor tempo na Rampa Cabeça de Manzaneda em Espanha. Na corrida viria a desistir com problemas mecânicos. Aliás as provas internacionais realizadas por Costa Paulo seriam coroadas por bastantes abandonos. Dispondo de material bastante inferior ao da concorrência e na esperança de fazer um bom resultado, acabava por não poupar a mecânica da sua mota, precipitando os abandonos. Foi com a Derbi que Costa Paulo teve o seu acidente mais perigoso. Uma queda num Circuito de Vila Real custou-lhe uma fractura num ombro… A nível profissional, a empresa de Costa Paulo ia de vento em poupa. Foi o primeiro comerciante a vender em Portugal os aros Akront. Vendeu imenso material de competição vindo do país vizinho. Esteve mais de 58 vezes em Espanha. Depois da experiência com a Derbi, Costa Paulo adquiriu uma Kreidler Van Veen original, ex – equipa de fábrica. Visto a EFS estar na altura a equipar os seus modelos com motores Kreidler, esta empresa decidiu patrocinar o piloto com uma verba em material EFS no valor de 350 contos anuais. Esta mota foi usada por Costa Paulo no Nacional de Motociclismo e foi igualmente usada para participar nas corridas internacionais na vizinha Espanha. Mais uma vez a sorte não esteve do seu lado…. A sua última participação em Provas de Motociclismo foi em 1987 na Festa de Homenagem do Circuito Internacional de Vila Real. A moto utilizada foi gentilmente emprestada pela equipa Metrakit de Barcelona que trouxe até Vila Real um camião de assistência, duas motas e ainda técnicos especializados. Tratava-se de uma mota ultra-competitiva, possuindo um quadro J. Covas com motor Huvo Casal de 80cc. Costa Paulo obteu o 4º lugar nos treinos cronometrados entre 36 concorrentes. Propositadamente decidiu arrancar do último lugar e na 2ª volta já era 7º classificado. Terminou a prova em 2º lugar, já muito perto do vencedor da corrida. Infelizmente a prova foi reduzida em 3 voltas devido ao adiantado da hora em que começou, pois Costa Paulo acabaria por vencer a mesma. A nível profissional e quando se apercebeu do declínio de vendas do comércio de ciclomotores, Costa Paulo dedicou-se ao comércio automóvel . No meio de todo este curriculum impressionante resta ainda referir as inúmeras organizações de provas e os Cargos Dirigentes que acumulou. Actualmente está a realizar um museu particular com um pouco da história do Circuito de Vila Real. Tem em mente um projecto de valorização das bancadas do Circuito de Vila Real, para que se tornem Monumento da Cidade. O seu sonho mais ambicioso era a formação de um grupo de trabalho para a criação de um Circuito Permanente em Vila Real, devolvendo assim toda a mística da Competição à cidade de Vila Real. |
Resultados:
1971- Campeão Regional Norte com algumas vitórias. 1972- Campeão Nacional e vencedor da Corrida de Inauguração do Autódromo do Estoril. 1973- Campeão Nacional com vitórias nos circuitos de Paredes, Mogadouro, Mirandela e Vila Real 1974- Campeão Regional Norte com algumas vitórias 1975- Campeão Regional Norte com algumas vitórias. 1977 e 1979- Participação no Campeonato do Mundo na prova de Jarama (duas desistências devido a avaria). 1977- Participação na Subida a Cabeça de Manzaneda em Orense – Espanha. Obteve o melhor tempo nos treinos, desistindo na corrida devido a avaria mecânica. 1979- Participação no XXI Circuito Internacional de Jerez de La Frontera. 12º lugar final motivado por queda. 1987- Festa de Homenagem ao circuito Internacional de Vila Real. 2º lugar final.
Veículos usados: Famel victoria Zundapp combinet 3v Jawa 50cc e 3v Flandria. Famel Zundapp xf 17 prototipo Derbi Juan Parez Réplica Kreidler Van Veen original ex- equipa oficial Metrakit com motor Huvo Casal de 80cc e quadro J.Covas.
Cargos Dirigentes:
1971 a 1979- Delegado da F.P.M nas provas do Campeonato do Mundo de Motociclismo em Espanha e de diversos Campeonatos Nacionais de Motociclismo.
Comissário Técnico no Autódromo do Estoril, Vila Real, Vila do Conde e em vários circuitos nacionais de Motocross.
Comissário Desportivo em variadas provas de duas e quatro rodas nos anos de 1981, 1987, 1989 e 1991. Esteve no Circuito da Guia, em Macau, estando ainda em muitos outros Circuitos por todo o mundo.
Director de diversas provas nos anos de 1969, 1970, 1971, 1972, 1976, 1978, 1979, 1981, 1982, 1988 e 1989
Possuiu diversos cargos Federativos de 1971 a 1989
Foi fundador de diversas colectividades dedicadas ao desporto motorizado, organizou diversas corridas e esteve presente em inúmeros seminários e congressos sobre motociclismo.
Em 1981 recebeu Colar de Mérito Desportivo Nacional. |