Destinada a impressionar |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Rui Belmonte e Paulo Araújo e as fotos de Paulo Araújo. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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Se fossemos obrigados a usar só uma palavra para descrever o percurso descrito por dois irmãos de Penafiel a caminho da sua mais recente criação, a AJP Galp 50, essa palavra teria de ser perfeccionismo.. a pequena AJP pode ter só 49cc, mas emana qualidade por todas as extremidades dos seus exóticos acessórios que a colocam numa classe à parte no mercado nacional.
Foi em 1986 que os irmãos António e Jorge Pinto desenharam a sua primeira moto, a AJP Ariana, mas só quatro anos depois conseguiram que a sua "menina" visse a luz do dia. Nessa altura, já ela estava ultrapassada não só tecnicamente como esteticamente, mas isso não serviu para acabar com o sonho dos dois irmãos de Penafiel. "Havia que criar uma imagem da AJP como uma moto competitiva, o que me levou a entrar eu próprio em corridas com ela. A 125 foi uma moto com que corri, tivemos algum sucesso, mas eu sabia que havia coisas erradas na moto, a brecagem por exemplo - basicamente, sacrificamos maneabilidade por estabilidade..." Mas isso não os fez desmoralizar e foi através das suas múltiplas vitórias em enduros e raides, que culminaram com a conquista do troféu de raides por parte de António há dois anos atrás, que nasceu a ideia de desenvolver uma nova moto, de preferência uma 50 devido à maior faixa de mercado que poderia abranger e tendo em conta as rivais japoneses existentes no mercado. "A AJP Ariana 125 era uma moto "dificil" para competir e poucos foram aqueles que conseguiram ser ganhadores com ela, tirando eu e o Alexandre Mendonça, que chegou a vencer a classe no Grândola. Nunca fui um piloto por vocação, mas sabendo de antemão "as manhas" que a moto tinha e qual a melhor maneira de as contornar, era natural que tenha sido eu quem melhores resultados conseguiu com a Ariana. Não nos podemos esquecer que o projecto da moto foi feito em 1986 e só em 1990 conseguimos colocar a moto na rua, pelo que tinha já alguns pontos em que se podia considerar como ultrapassada, principalmente esteticamente, que foi sempre um ponto em que as pessoas mostraram algum desagrado, mas o dinheiro não chega para tudo e a vontade de ter a moto na rua era maior do que esses aspectos."
António Pinto exibe orgulhoso o espectacular braço oscilante que equipa a pequena AJP.
Mas mesmo assim ainda foram vendidas algumas motos, nomeadamente para países africanos de expressão portuguesa, como é o caso de Angola, para onde a pequena firma familiar de Penafiel conseguiu vender cerca de duas dezenas de motos... " É verdade. Quando a Ariana começou a ser comercializada chegou-nos uma encomenda de vinte motos para Angola, motos essas que não sei o que lhes aconteceu, porque nunca cheguei a receber qualquer tipo de encomenda em termos de peças sobressalentes ou de substituição. Não sei se continuam a circular ou se estão paradas. Para além disso ainda vendemos mais algumas motos para outros países de língua oficial portuguesa, que em conjunto com as vendas feitas em Portugal ainda chegou para fazer mais de cinquenta Arianas". Mesmo assim, com cerca de meia centena de motos vendidas não se poderá considerar que a AJP tenha sido um fiasco a nível comercial, já que os dois irmãos sabiam que a hora tardia a que a moto foi colocada à venda iria colocar sérios problemas em termos de vendas. "Se tivéssemos tido a sorte de construir e comercializar a moto logo quando a construímos pela primeira vez, de certeza que teríamos tido sucesso em termos de mercado nacional, porque na altura as motos japonesas de 125cc ainda não tinham a "força" de vendas que têm hoje e em 1986 a AJP Ariana era uma moto que se podia considerar "revolucionária" em termos de motos nacionais, primeiro porque a outra 125 que existia era a Casal e que não adoptava nenhuma solução técnica tão avançada como a nossa moto. A Casal não tinha braço oscilante e mono amortecedor atrás, não tinha forquilha invertida à frente, não adoptava travões de disco, etc. Se olhares para trás e verificares as vendas da Casal por volta dos anos 1986 até 1989, poderás concluir que até não foi uma moto que se possa considerar um fiasco. Não quero dizer com isto que a minha moto tenha sido um fiasco, mas também não foi um sucesso, tendo em conta que em 1990 já a Yamaha, pelo menos, estava em força neste segmento do mercado, nomeadamente com a célebre YPVS. Digamos que a AJP não nos deu muito dinheiro, mas mostrou que se houver apoios aos portugueses podem construir boas motos, pelo menos nos dois segmentos mais pequenos do mercado"
As actuais instalações não permitem um correcto manuseamento das máquinas...
Mas passada que foi a fase da Ariana, os dois irmãos não desistiram de continuar a realizar o seu sonho, ou seja, construir motos e ganhar dinheiro com isso. "Sempre dissemos que se um dia quisermos ganhar dinheiro então deixamos de fazer motos. Infelizmente as motos nunca nos deram dinheiro a ganhar e quando precisamos dele para continuar a produzir motos, paramos com a produção das motos durante uns meses e começamos a produzir produtos destinados a outras áreas." Mas o projecto da 50 já nasceu com outros objectivos, ou sejam, o de tentar fabricar uma moto que seja desejada pelas camadas etárias a que é destinada, não só em termos desportivos como para uma utilização diária. "Como sabes, hoje em dia os míudos querem uma moto que lhes permita fazer as "tropelias" próprias de quem tem 16 ou 17 anos. Quando compram uma DT 50, a primeira coisa que eles fazem é logo retirar os espelhos, os piscas, os manómetros... dando um aspecto mais desportivo à sua moto e que lhes permita fazer incursões pela terra sem o problema de estragarem muito material. Nós, quando fizemos a moto pensamos exactamente nesse problema, que é nem mais nem menos do que os que retiram quase metade das peças da moto quando a adquirem, não só porque querem ir para a terra divertir-se, mas também porque se a deixam á porta da escola a mesma irá concerteza ser "descascada" ao fim de alguns minutos, nem sequer demora umas horas.
mas em breve tudo mudará, com a passagem da AJP para as novas instalações, a poucos quilómetros das actuais.
Por isso a AJP Galp 50 não será comercializada com espelhos, piscas e demais acessórios que sabemos que são automaticamente retirados e que no fundo acabam por encarecer a moto no seu preço final. Preferimos gastar esse dinheiro em boas suspensões ou travões, que sejam mais úteis para quem vai conduzir a moto". Aliás essa política acaba por contribuir de sobremaneira para o excelente "cocktail" de material que podemos encontrar nesta nova 50, conforme nos explica o próprio António Pinto. "A moto possui algumas particularidades vincadamente desportivas, como seja as forquilhas invertidas Paioli de 34mm de diâmetro e 250mm de curso, o amortecimento traseiro está entregue a uma unidade da mesma marca com 300mm de curso, multi-ajustável em compressão e mola com a travagem a ser entregue a um disco flutuante de 220mm à frente e 185mm atrás, "mordidos" por pinças AJP especialmente feitas em Espanha. Os aros são igualmente espanhóis, feitos na Morad, o mesmo se passando com o depósito, que foi feito na Alfer, com 7,5 litros de capacidade. Com estas peças especialmente feitas para a moto é natural que se tenha que reduzir as despesas noutros pontos, como é o caso dos manómetros, onde utilizamos somente um conta - quilómetros LED quartzo líquido fabricado pela Sigma Sport." Mas a competição é na realidade a verdadeira "casa" da pequena AJP. "Sim, este ano já temos conseguido bons resultados com os protótipos, que para além de nos darem a necessária projecção podem igualmente servir para mostrar aos potenciais interessados que a moto é na realidade fiável e competitiva em relação a outros modelos existentes no mercado. Estas participações em competições de Todo-o-Terreno servem igualmente de laboratório, com vista a descobrir defeitos que a moto possa ter ou não. Estas quatro motos que temos neste momento são puros protótipos e podem ainda sofrer alterações de pormenor com vista à sua comercialização".
As linhas da pequena AJP Galp 50 são totalmente inspiradas em motos de competição. Mas afinal esse também é um dos principais objectivos da nova produção da fábrica de Penafiel e é sempre do agrado dos candidatos a compradores desta pequena "bomba".
Mas construir a moto não tem sido nada fácil para a marca nortenha, apesar de estar já em fase de de finalização a nova unidade fabril da AJP, que será bastante mais ampla que a actual. "Actualmente estamos a trabalhar num "canto" de um estaleiro, pelo que as nossas possibilidades de expansão são mínimas e não queremos estar a investir em novas máquinas sem estarmos já nas novas instalações. Na nova fábrica, apontaremos para uma produção de 100 motos inicialmente - mas há que delinear estratégias, estudar o método de produção para nos mantermos competitivos. A Casal ainda nos apoia, mas não do modo que tinhamos previsto - inicialmente, queriamos ficar apenas como a divisão de desenvolvimento, e deixar a fabricação com eles... Estavamos a ponto de assinar o contrato com eles para o efeito, em que se comprometiam a comprar o protótipo por 35.000 contos, mas eles tiveram uma mudança de política à ultima hora....
O porta-farol HP, é já conhecido entre os amantes do fora - de - estrada.
Tinha preferido que fosse a Casal a fazer a moto, a pôr logo umas centenas em produção, assim teremos de a fazer nós a um ritmo dumas 5 por dia.... Claro que contamos com todo o apoio deles no fornecimento de peças e temos uma boa relação, em que o pessoal da fábrica, alguns dos quais são pessoas que admiro muito, estão sempre prontos a ouvir as minhas sugestões..." Agora resta esperar pelo início da produção da AJP Galp 50 e constatar num teste dinâmico as verdadeiras potêncialidades que a AJP demostrou na pequena volta que tivemos a oportunidade de fazer aquando deste primeiro contacto com a mais recente produção dos irmãos António e Jorge Pinto.
Os instrumentos da AJP Galp 50 resumem-se a um pequeno conta- quilómetros digital, bem ao jeito das motos de enduro e todo - o -terreno, onde tudo o resto é considerado "lixo"
As partes plásticas encaixam na perfeição, podendo desmanchar-se a secção traseira da moto em poucos minutos, com recurso a uma só chave.
A qualidade está bem patente em toda a moto, com o depósito fabricado para AJP pela reputada firma espanhola Alfer. As protecções das mãos ainda não eram definitivas devendo ser as da Polisport as adoptadas pela casa de Penafiel.
O motor Casal é conhecido, apesar de ter sofrido algumas alterações por parte da equipa de António Pinto.
O braço oscilante é totalmente fabricado nas instalações da marca. Destaque ainda para as tubagens dos travões em malha de aço, provando a aptidão para a competição da AJP Galp 50.
São estes os moldes que permitem a produção da AJP Galp 50 e que no fundo são as peças que encarecem a construção de qualquer moto.
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