Ambiciosa. |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 00. O texto é da responsabilidade de Rui Marcelo e as fotos de Rogério Sarzedo. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre a única marca nacional que ainda produz motociclos. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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"É a moto para quem não gosta de motos, mas passará a gostar." António Pinto, o criador, define-a assim. Para quem conhece o conceito, esta é uma AJP mais fácil e divertida que antes, mais pequena, com melhores suspensões e um motor ligeiramente mais potente. Para já a versão de cross, sem matricula. Para breve a opção de Enduro de uso em estrada e 125cc. Com ela a AJP entra num novo ciclo, positivo, assim se espera.
A única marca portuguesa em actividade, regressa aos palcos nacionais e europeus com uma nova proposta TT. António Pinto e seus pares, voltam à carga depois da "aventura" da PR4 iniciada há um bom par de anos, a máquina que retirou a empresa de uma situação economicamente complicada - mas que acabou por não conseguir dar à casa de Penafiel (entretanto sedeada em Lousada) a necessária "saúde" financeira e estabilidade comercial. Esses tempos parecem ter passado e depois do que se pôde observar há cerca de duas semanas aquando da apresentação da nova PR3, as coisas dão ideia de se ter entrado num rumo novo, algo diferente. Agora a aposta centra-se nos novos processos de produção, mais equilibrados, com maior qualidade - o que significa uma evolução na estrutura da fábrica através de novas máquinas - mas sempre no universo dos modelos de baixa cilindrada, onde a AJP pode e deve marcar presença forte. Afastado por isso o "desejo" da PR Pro 400, vista por duas vezes como protótipo em Paris e Milão também há uns pares de anos, e que se estava a transformar mais num autêntico "fantasma" impeditivo de voos mais altos, António Pinto concentrou-se na criação de uma nova moto que, apesar de parecer igual às PR4 125, tem muitas diferenças.
Fácil, divertida, suficientemente potente e com soluções técnicas de primeira, a PR3 representa o futuro da única marca lusa.
Muito mais simples:
A própria filosofia da PR3 é diferente. Mais pequena, mais compacta, mais estreita á frente, esta é claramente uma máquina de TT para gente que apenas se quer divertir numa máquina acessível e fácil. Sente-se isso logo no primeiro contacto e através da posição de condução igual às "enduro". O guiador é largo, o assento estreito mas mais confortável porque é mais macio e ambos os pés chegam ao chão. Os de grande estatura poderão (deverão) encontrar má acomodação da moto, mas no geral sentimo-nos bem. Como na PR4, esta PR3 é espartana em equipamento, que nenhuma falta faz para uma moto puramente TT. Por enquanto será assim, nesta que é a versão sem luzes, piscas ou outros acessórios necessários para rodar em estrada, mas na versão a homologar e a surgir dentro de algumas semanas, esses "apetrechos" terão presença obrigatória. Interessante é que a facilidade da MX começa logo no sistema de arranque, eléctrico, ainda que também com pedal incluído. As soluções técnicas estreadas na PR4 estendem-se a este modelo. É o caso do "inteligente" depósito de combustível colocado ao centro da moto e sob o assento - agora com a novidade de ter o bocal colocado no guarda lamas traseiro - o braço oscilante em alumínio fundido revisto ao nível do sistema de bielas desmultiplicadoras e do quadro, uma estreia nas produções em série da marca, numa configuração de traves de alumínio e berço em aço, ambas aparafusadas entre si. A grande diferença encontramo-la no tamanho das rodas, de 19 e 16 polegadas, à frente e atrás, o tamanho habitual nas motos de iniciação. Os travões oriundos da AJP espanhola, foram também melhorados, assim como as bombas. Nas suspensões as propostas são duas: ou a versão base equipada com a mais simples forquilha Paioli e amortecedor Ollé, sem qualquer possibilidade de afinação, ou a mais completa forquilha Marzocchi invertida e amortecedor Sachs, ambos multiajustáveis. O preço ditará alguma diferença, mas o rendimento também.... Quanto ao motor a aposta é semelhante à PR4. Trata-se de um monocilíndrico a 4 tempos de 200cc, fornecido por uma fábrica asiática, dotado de duas válvulas, refrigeração por ar e circuito reforçado de óleo e caixa de 5 velocidades.
Tão fácil!
Qualquer uma das duas versões disponíveis, a 200 MX ou 2oo MX Pro, resultam de facto pequenas e muito acessíveis a qualquer estatura de condutor. A moto parece nem ter peso e a facilidade, sentida depois em andamento, para negociar qualquer curva ou situação TT é incrível, dada a ligeireza e simplicidade do tacto do conjunto. Quem nada sabe sobre "andar de moto", depressa se enquadra no conjunto e progride, até porque este motor, com o ligeiro aumento de capacidade, desenvolve uma entrega inicial ligeiramente mais cheia. A embraiagem muito suave ajuda, assim como a caixa, de engrenamento preciso e muito aceitável para uma condução "agressiva" que se fará na maior parte do tempo a "fundo"?! A MX 200 nunca mete medo e só é pena a direcção por vezes sacudir em demasia em zonas muito exigentes, especialmente a versão "base" do modelo, menos capaz à frente.
A travagem foi melhorada e cumpre os requisitos de elevada segurança. O braço oscilante em alumínio fundido continua a ser um elemento marcante num conjunto que monta também o depósito sob o assento - solução que muitos invejam... O motor de origem asiática mostra vivacidade, elasticidade e está de acordo com os intentos deste modelo.
Entrevista - António Pinto.
O criador da PR3 estava satisfeito por lançar mais um modelo na história da marca portuguesa. Com sentimento de dever cumprido, fala-nos da sua nova "menina" e do futuro, que espera bem diferente e promissor... É todo um conceito novo de moto. É uma máquina que se afasta das 85 a dois tempos, que não são acessíveis a todos pela potência e resposta, e das enduro de 125cc que são normalmente muito altas. Esta é uma boa moto para quem diz não gostar de motos. A pessoa sente-se bem nela e transmite confiança. Não é uma máquina para pilotos, mas sim para uma pessoa que goste de desfrutar de umas voltinhas ao fim de semana e para os jovens e os que procuram uma máquina acessível. É esse o mercado da PR3 200, um nicho que está por explorar e onde a AJP irá apostar forte. Um nicho onde a concorrência é pouca? A lista de concorrentes neste mercado quase nem existe. Só a Honda CRF 150 que custa o dobro do preço mas em termos de equipamento estamos a par deles. A aposta está centrada em duas versões? Sim, temos uma versão mais económica para os que pretendem apenas rolar em TT e outra mais espigada e bem equipada para os que procuram algo mais. O motor de 200cc é um bom compromisso e repara que não vale a pena colocar mais potência numa moto destas quando ela não tem ciclística que dê resposta a essa potência. Com este motor penso que temos um conjunto equilibrado Entretanto irá sair uma versão homologada... Dentro de dois meses a três meses teremos a 125cc com as suspensões da 200 MX Pro mas homologada para estrada, para uso citadino. O processo de homologação já está a decorrer e temos a ideia que em breve estará pronto. Para já temos a 200 MX da qual espero lançar uma pré série de 100 unidades até final do ano, para analisar a reacção do mercado e receptividade à moto. De novo a PR3 mostra algumas soluções técnicas interessantes. O que achas que se destaca na moto? Fomos os primeiros no Mundo a construir um braço oscilante em alumínio fundido, que apresentámos na PR Pro 400. No salão de Munique todos se riram de nós, e o que é certo é que hoje em dia todos o produzem assim. Todas as motos de TT têm braço em alumínio fundido. Introduzimos também o conceito do depósito por baixo do assento e no futuro penso que todas as motos irão seguir esta solução, sobretudo por razões técnicas. Não quero dizer que os outros copiem de nós esse conceito, mas apenas que seguimos o nosso caminho sem copiar ninguém e agora os outros fazem o mesmo. Depois há também o quadro, um misto de alumínio e berço em aço. Como está a AJP? Acho que está bem. As coisas estão a correr bem e além deste projecto novo estamos a preparar mais coisas, como o projecto da PR5, a trail de 250cc apresentada no ano passado no salão de Milão. Houve mudanças em termos de estrutura da empresa, estivemos um pouco parados, é certo, para resolver algumas situações, mas penso que as coisas irão correr melhor que antes, com mais dinamismo e projecção.
E isso passa pela entrada de capital novo na estrutura da empresa?
Há um projecto apresentado à Associação Portuguesa de Investimento (API), que inclui um plano de investimento. É um projecto que está em estudo mas penso que vai correr bem. Quando a API entra numa empresa não entra para a salvar mas sim como uma mais - valia. Neste momento a AJP não está em perigo. Tem é a mais valia desta associação que poderá aumentar o potencial da marca. Tens visto receptividade ao projecto e às motos? Sim, sem dúvida. O grande problema é que a AJP começou quando todas as empresas de motos nacionais estavam a fechar. Ainda hoje algumas pessoas perguntam como foi possível comçar sem qualquer meio e no dia em que todos encerravam. Foi difícil passar a mensagem, porque as pessoas normalmente não acreditam nas motos e neste negócio, no seu potencial. Agora só quero que as pessoas acreditem em mim e no Miguel, que neste momento é um elemento fundamental na empresa, para que possamos construir motos. É preciso passar a mensagem que a AJP é um projecto viável. Se houver interesse de outros pela AJP óptimo. Se não houver continuaremos a trabalhar porque não estamos dependentes absolutamente de ninguém. Como está estruturada a empresa actualmente? Neste momento somos 12 pessoas, mas até 2012 temos um projecto de investimento que pode envolver 35. Mas o meu objectivo imediato não é ter uma grande fábrica mas sim um produto de referência a nível europeu. Projectos para o futuro? A seguir vamos fazer a 250 de lazer que é um mercado também muito interessante. Vamos tê-la antes do final do ano. Depois, no futuro, se as coisas correrem bem poderemos pensar em entrar na competição a sério. Mas para já estamos a trabalhar noutros campos.
E como vai ser essa 250cc? O motor é refrigerado a ar, rigurosamente igual ao da Honda XR. Vai ter uma ciclística do melhor que se faz no mundo, mas a filosofia é idêntica á da PR3 200, uma moto de lazer. Presumo então que acabaram os problemas com o fornecimento de motores oriundos da Ásia? Mudámos de fornecedor e os problemas acabaram. Agora trabalhamos com uma empresa asiática em que é a AJP que define o seu motor, em termos de escalonamento de caixa de velocidades, de componentes internos. Eles produzem para nós segundo as nossas especificações. E como está o projecto da PR Pro 400? Penso que neste momento é já um projecto para esquecer. Tenho pena de não o ter feito há mais anos atrás, mas neste momento temos na Europa fortes restrições ambientais e nos locais que permitem andar em todo - o -terreno. Isso condiciona tudo, portanto acho que o TT está em decadência entre nós - ainda com a excepção de Portugal em que se pode rolar sem grandes restrições. Daí que talvez prefira apostar numa trail 650 e até pensar em avançar num projecto que nos leve ao Dakar, que foi sempre um dos meus grandes sonhos. Vamos ver. O que sei é que hoje em dia a AJP apresentar uma 450cc não iria trazer nenhuma mais- valia ao mercado. Além disso é uma classe que poderá acabar e a concorrência é muito forte. Daí que uma enduro 250 mais "soft" poderá ter mais receptividade. A competição está mesmo posta de parte? Hoje em dia é dificil. Quando corria todas as semanas havia noticias das corridas e agora ouve-se falar apenas do Hélder Rodrigues porque foi parar ao hospital. Hoje em dia não há nenhum retorno. As corridas dão zero nesse aspecto.
A moto é tão ligeira que exige alguma atenção extra, especialmente porque o motor leva-a a atingir uma velocidade bastante considerável, em ritmo vivo e muito alegre. Claro que o motor necessita que se rode com mais rotação que o habitual porque o binário não é muito, mas ainda assim permite muitos erros nas passagens de caixa - coisa frequente neste tipo de moto. A versão mais "espigada" nas suspensões é bastante mais equilibrada que a normal, pois esta tem apenas o contra das suspensões serem ambas muito moles, o que será um bom prenúncio para rodar de futuro na estrada com conforto e qualidade, mas limitada para todo - o - terreno. A opção Marzocchi é por isso a mais recomendada e com provas dadas, sobretudo se a "aventura" TT incluir um percurso com saltos, mais desgastante para o piloto e máquina. A travagem é boa, um pouco dura, mas sempre suficiente para transmitir confiança e permitir-nos conduzir com menor margem de antecipação. Factor importante no comportamento das PR3 é sem dúvida o depósito de gasolina colocado ao centro da moto e que torna a condução tão intuitiva como fácil, assente ainda no desenpenho dos pneus Michelin Star Cross que chegam a "irritar" com tanta aderência nas situações mais precárias.
Novos tempos, a mesma vontade. Poderemos considerar que o lançamento da nova PR3, marca para a AJP um novo ciclo. E por vários motivos que a própria apresentação à imprensa e entidades "oficiais" deu a conhecer. Pela primeira vez, a marca nacional conseguiu reunir num evento simples alguma da imprensa estrangeira, espanhois e franceses, sobretudo, que vieram para "experimentar" a "motinha" nacional, representando assim apenas dois entre a duzia de países onde já tem representação oficial.
Mas à imprensa juntaram-se algumas figuras concelhias que, por fim, parecem acreditar no projecto da marca de Penafiel. E sobretudo elementos de um organismo que poderá apoiar a re-estruturação da empresa visando a sua forte internacionalização, a aposta em novas tecnologias e métodos de produção. Tudo para lhe garantir um futuro mais promissor, e merecido, envolvendo como antes a mesma vontade de sempre: mostrar a mais valia do produto nacional, a nossa capacidade entre as pequenas produções e a nossa afirmação tecnológica. A ver se não é desta...
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