A caminho.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 00. O texto é da responsabilidade de Rui Marcelo e as fotos de Nuno Laranjeira.

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O sonho de António Pinto está cada vez mais próximo. Realizado o protótipo de 400cc, e confirmada a cedência dos motores de "quatro" e dois e meio", a resistente marca portuguesa lança agora uma evolução da PR4 125, dotada de um motor com mais genica e a sempre eficiente e equilibrada ciclística.

É mais um passo para concretizar o sonho, que está cada vez mais perto...

 

 

Precisamente no dia em que escrevo este contacto, quarta-feira 18 de Maio, o próprio António Pinto aprontava-se para regressar de uma viagem de três dias a França onde, pela segunda vez, a marca portuguesa apresentou de forma oficial a sua nova aposta à imprensa gaulesa. A nova PR4 200 Enduro, a moto deste trabalho, foi a estrela da companhia durante dois dias de apresentação quer às revistas especializadas em todo-o-terreno, quer até às outras, as mais generalistas e as que se dedicam apenas ao segmento das 125cc, isto porque em França é enorme a procura por motos desta classe que podem ser conduzidas pelos encartados dos automóveis.

Por telefone, o próprio Pinto me contava a sua enorme alegria não só pela presença de quase duas dezenas de meios de comunicação social, mas também (e sobretudo) porque a PR4 200 deu sinais de alegria e satisfação perante as exigências dos franceses, isto num mercado onde a AJP muito investe ( e do qual muito espera) e onde o importador da marca portuguesa- a cargo do bem conhecido Marc Moráles, antigo piloto de TT e um das estrelas do Dakar de outros tempos- muito tem trabalhado. A coisa parece que funcionou em pleno, melhor até do que há um ano quando a PR4 125 foi lançada em França, causando desde logo uma excelente impressão mas pecando posteriormente pela incapacidade da fábrica portuguesa em produzir e entregar motos a tempo - devido sobretudo ao limitado fornecimento de motores vindos do oriente, entre outros problemas menores e que, decididamente, prejudicou as vendas junto dos muitos que procuraram a AJP.

E funcionou também melhor porque felizmente a nova moto é realmente mais interessante que a "oitavo de litro" provando que qualquer motor de capacidade superior aos 125cc assenta que nem uma luva na ciclística, que o recebe com equilíbrio e dinamismo e retribui com a já conhecida eficiência e "alegria" de condução que a PR4 sempre teve. Tudo isso, e algo mais ficou comprovado neste primeiro contacto.

 

Formato 125

 

Alguns dias antes da partida de António Pinto para França, o novo modelo esperava-nos nas actuais instalações da marca portuguesa, para, no meu caso particular, mais uma vez me deliciar com a facilidade e gozo que a condução de uma AJP de Enduro sempre proporciona além de me fazer relembrar algumas Bajas em que participei com a 125 nacional. Colocadas lado a lado, fica claro que ambas são em muito iguais, exceptuando agora as cores pois a versão "maior" vem vestida a preto e com alguns traços de vermelho que neste caso ainda não eram definitivos. O mesmo acontece com um dos logotipos, o "Enduro 200" que será mais pequeno e sobretudo ainda mais estilizado provando que cada vez mais a AJP aposta na imagem forte e nos pormenores cuidados bem como numa superior qualidade de construção. Numa análise geral, a nova PR4 continua a mostrar bons pormenores de construção e apesar de alguns detalhes não serem de todo tão "apaparicados" como por vezes acontece nalgumas motos estrangeiras, o certo é que para quem pratica todo-o-terreno isso não conta, importando mais a robustez e fiabilidade da moto perante piores "tratamentos" - coisa que a actual 125 já comprovou. A base, como referi, é a mesma da 125, ou seja o quadro é o mesmo, as suspensões, os travões, o braço oscilante e todo o restante equipamento que monta.

Claro que por se tratar de uma evolução houve coisas que melhoraram, como é o caso do assento, que por fim está mais esponjoso mas na mesma envolvente e estreito, ajudando à posição de condução tipicamente endurista.

 

A PR4 200 monta um radiador de óleo para uma superior eficiência mecânica.

 

Outra novidade está nos travões que apesar de contarem com os mesmos discos dos espanhóis da AJP - destacando-se o dianteiro flutuante, coisa que poucas motos do género possuem - montam agora uma pinça de quatro êmbolos atrás, tentando-se acabar de vez com as queixas pela falta de potência de travagem que alguns apontaram. De resto nada mais. O painel de instrumentos é o mesmo, talvez demasiado simples, os plásticos também (agora são da casa portuguesa Polisport, excepto o guarda-lamas dianteiro que vem da UFO), assim como o depósito de gasolina, transparente e colocado debaixo do assento, ajudando a baixar o centro de gravidade e libertando espaço.

Na ciclística também tudo é igual, estruturando-se a PR4 em torno do quadro tipo monoberço desdobravel em aço, bastante robusto e de dimensões acertadas, ligado com um braço oscilante em alumínio fundido que continua a ser um dos pontos fortes das AJP que com as suspensões Paioli em ambos os eixos, convencional à frente e sistema mono-amortecedor atrás. Os pneus Michelin Enduro III, os aros, cubos, mesas de direcção, ponteira de escape, enfim tudo é igual excepto numa coisa, o motor.

 

O travão traseiro denota agora excessiva potência.

 

O novo motor:

 

A origem do novo motor da AJP continua a ser asiatica, só que agora, para além da cilindrada que chega a 198cc, o fabricante é outro, mantido em segredo pelo próprio António Pinto, mas alguém de renome na sempre possante indústria oriental e que pela primeira vez aceitou os requisitos específicos da marca portuguesa criando e produzindo este motor a 4 tempos bem de acordo com as demandas do próprio Pinto. A unidade refrigerada por ar continua contudo a demonstrar um quadro de soluções tradicionais que conseguem manter em alta a comprovada fiabilidade sem perderem para outras unidades, rendimento e carácter - isto atendendo à classe onde se insere. A distribuição continua a ser simples, com uma árvore de cames à cabeça e duas válvulas, assim com a refrigeração por ar e a alimentação por um carburador com difusor de 30mm. Neste novo modelo as duas maiores novidades estão primeiro no sistema de lubrificação que adopta um pequeno radiador de óleo extra montado ao lado do colector de escape e depois na caixa de velocidades que apesar de manter as cinco relações, foi muito melhorada ao nível  do engrenamento e resistência dos seus elementos internos. Outro pormenor neste motor, este menos positivo, está na ausência de pedal de arranque (só tem arranque eléctrico) embora seja possível a sua montagem posterior - que sempre se justifica para quem usa intensamente a moto.

 

O motor, encaixado entre o amortecedor traseiro, o depósito e a trave dianteira do quadro.

 

Mais força

 

O cantar do novo motor continua a ser agradável mas algo abafado inicialmente e depois bem aberto e entusiasmente. A diferença para antes é que em regimes elevados não incomoda tanto como acontecia na 125 pois apesar do ruído ser algo elevado, a frequência é menor, não incomodando tanto o condutor.

O arranque eléctrico simplifica as coisas (embora consideremos que o pedal também dá sempre jeito nalgumas situações e o motor nunca se nega a pegar. Como antes, o monocilíndrico da AJP gosta de estar quente para desde logo denotar que agora a resposta é diferente - para melhor. O que se sente por todo o regime e assim que a rotação aumenta de forma mais viva e rápida que no 125cc (a primeira diferença), é que a entrega é sempre mais cheia e sentida (a segunda diferença), dando-nos outro olhar e confiança de utilização da moto. Agora já não se tem que "castigar" tanto as primeiras mudanças como acontece na 125 em que muitas vezes se roda com gás aberto em primeira ou segunda.

 

Entrevista a António Pinto

 

"A 250 pode surgir este ano!"

 

O responsável máximo pela AJP continua a ser uma peça chave no desenvolvimento das novas soluções que a marca portuguesa já apresenta e pretende desenvolver no futuro. Sempre criativo e lutador por um futuro melhor para a marca que criou e que pretende afirmar no panorama internacional, Pinto falou-nos deste actual projecto mas também do futuro e dos seus sonhos, agora repartidos por dois: a 250 e a 450 a 4 tempos de Enduro. mas antes tentámos saber os motivos que levaram ao surgimento e aposta nesta versão de 200cc.

António Pinto - "Esta PR4 200 acabou por surgir um pouco por sorte. Mandámos vir um motor de 200cc de capacidade para o experimentarmos no quadro da 125 e chegámos à conclusão que afinal tudo se conjugava muito bem. Esta moto adapta-se na perfeição aos pedidos de muitos clientes que achavam a PR4 125 uma moto com uma ciclística fabulosa mas motor algo limitado. Além disso, o mercado pede motos que não sejam apenas de competição e para corridas, mas aquelas que agradam a todos mesmo nas cilindradas mais baixas.

Existia um Kit para aumentar a cilindrada da 125 mas isso não é legal. E como muitos diziam que este quadro podia receber um motor de maior cilindrada, mais potente, e de um mesmo modo económico, acabámos por experimentar esta versão. O resultado é positivo e por isso decidimos apostar, apresentando uma moto que junta um pouco o útil ao agradável."

MJ - Mas esta pode vir a roubar mercado à 125?

AP - "Pode ser que aconteça. Talvez roube um pouco de mercado mas por outro lado também vai atraír outro tipo de clientes"

 

 

MJ - E a aposta na 200 vai centrar-se sobretudo em que mercados?

AP- "Penso que vai vender bem em todos os mercados onde já estamos presentes. Mas sobretudo penso que poderá vingar em Inglaterra porque a legislação aí não é tão favorável à 125cc e talvez a 200 seja mais bem aceite."

MJ - Já vamos quase a meio de 2004 mas como prevêem que decorra o ano para a marca?

AP -"Este ano ainda estamos em fase de introdução e estreia em muitos mercados mas as perspectivas são muito positivas. Os importadores que temos seleccionados estão a trabalhar muito bem e este novo modelo é mais um produto para reforçar a oferta até que possa chegar a 450cc. Em termos  de produção queremos continuar a crescer para em 2005 chegarmos às 1000 motos produzidas entre as duas versões."

MJ - E como estamos então com os novos projectos. Para quando a 450cc?

AP- "Continuo à espera do motor de 450cc que a Suzuki vai apresentar em breve para nos podermos atirar em força a essa cilindrada. Só estou mesmo à espera do motor porque tudo o resto já está pronto... na minha cabeça!"

MJ - E agora há também o projecto da 250?

AP - "Numa primeira fase disseram-nos que não seria possível fornecerem-nos esse motor, mas agora felizmente têm outra abertura para negociarmos e tudo pode ser possível".

E esta semana mesmo já nos confirmaram que em breve, muito breve, teremos disponível o motor de 250cc. Talvez mesmo ainda este ano."

 

 

A nova PR4 denota maior elasticidade e superior resposta desde baixo regime, mantendo a fiabilidade, baixos consumos e reduzida manutenção que lhe são reconhecidos.

 

 

Ficha técnica - AJP PR4 200 Enduro
   
Motor  
   
Tipo Monocilindrico, 4 tempos
  refrigerado por ar
Distribuição Uma arvore de cames à cabeça
  duas válvulas
Diâmetro x curso 69 x 53mm
Cilindrada 198cc
Taxa de compressão n.d.
Potência máxima n.d.
Binário máximo n.d.
Alimentação Carburador de 30mm
Ignição Electrónica digital
Arranque Eléctrico
   
Transmissão  
   
Primária Por engrenagens
Embraiagem Multidisco em banho de óleo
Caixa Cinco velocidades
Final Por corrente
   
Ciclistica  
   
Quadro Monoberço desdobrado, 
  construido em tubos de aço
Suspensão dianteira Forquilha telescópica 
  convencional, bainhas de 43mm
  curso n.d.
Suspensão traseira Mono - amortecedor de acção 
  progressiva, curso n.d.
Travão dianteiro Disco 260mm, pinça de dois 
  êmbolos
Travão traseiro Disco de 210mm, pinça de 
  quatro êmbolos
Pneu dianteiro 90/90 - 21"
Pneu traseiro 120/90 - 18"
   
Dimensões  
   
Comprimento máximo n.d.
Largura máxima n.d.
Altura máxima n.d.
Altura do assento 920mm
Distância entre eixos 1410mm
Trail n.d.
Ângulo coluna direcção n.d.
Capacidade depósito combustível 9 litros
Peso n.d.
   
Outros dados  
   
Cores Preto e vermelho
Garantia Dois anos
Construtor AJP Motos lda - Lousada
   
Preço 3.600 €

 

 

O painel de instrumentos, simples e sem luxos ficando concordante com o nível de todo o conjunto.

 

 

Agora o motor oferece mais binário e permite rodar com uma mudança acima, aproveitando a superior elasticidade e disponíbilidade, e permitindo pilotar a PR4 200 muitas das vezes como se de uma máquina de maior cilindrada se tratasse. Claro que para se andar rápido continua a ser necessário enrolar bem o punho mas a diferente capacidade do motor e as também diferentes relações da caixa, dão para que se role em piso aberto algo mais depressa e sem tanto esforço, notando-se que o ritmo agora é algo mais elevado. Só em alta e quando se pretende rodar muito depressa é que se sente que ainda continua a faltar alguma elasticidade e aquela vivacidade que só outro tipo de unidade mais evoluída consegue oferecer. A embraiagem, por comando mecânico, é também mais suave, denotando a mesma elevada resistência que já antes a 125 possuia, sendo outro dos elementos que comprovam as excelentes prestações em enduro e trialeiras mesmo desgastantes.

 

Decorada a preto, a AJP volta a revelar linhas simples, equilibradas e eficientes, que se traduzem num enorme gozo e eficácia, limitada do conjunto. O motor assenta-lhe melhor.

 

A mesma ciclística

 

Igual, a resposta da ciclística revela, de facto, que o motor não está a mais para o quadro e suspensões já antes escolhidas. Nas zonas sinuosas, poucas motos são tão intuitivas e maneáveis como a PR4, fazendo valer imensos atributos, que começam logo na posição de condução (em cima do largo guiador e bem estreita à frente) e que passam pela progressividade de ambas as suspensões. É bonito e positivo sentir o funcionamento de ambos os conjuntos, o traseiro a responder bem perante a potência limitada do motor e a frente que, apesar de parecer suave, afinal tem aquela consistência e progressividade que uma moto deste género e formato deve possuir, levando o condutor a atrever-se por vezes mais do que em motos mais potentes mas sempre sem nos cansar tanto como essas.

O que também merece um registo é o curso das suspensões em ambos os eixos, avantajado e suficiente para nos metermos num circuito de motocross e ficar-se surpreendido com a capacidade de ambas. A travagem revela a mesma potência e progressividade na frente até porque com quase o mesmo peso, a moto continua a ter as mesmas reacções de antes, sendo que atrás é que agora a travagem parece exagerada, bloqueando em demasia ao mínimo toque no travão. Pinto, acho que o travão anterior era melhor!

Nos pequenos detalhes há que referir que na versão final deste modelo, o cárter motor virá protegido com uma placa de alumínio, assim como na admissão do carburador terá novos acertos e componentes, funcionando sempre em pleno mesmo nas piores condições de utilização.

Por tudo isto, a AJP custa mais 350 euros ( o valor final é de 3600 euros) uma diferença que acaba por justificar perante o rendimento que o motor oferece, que ligado à ciclística transformam a resistente portuguesa numa adorável moto para os que iniciam e não só...