À maneira deles.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 00. O texto é da responsabilidade de Rui Marcelo e as fotos de Rui Jorge.

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Numa iniciativa inédita e sem precedentes nas duas rodas, os Xutos e Pontapés juntaram-se à AJP Motos para criarem uma colecção de motos trail e supermoto. A ideia partiu da banda rock. António Pinto, o responsável máximo pela única fábrica de motos nacional de imediato a aceitou. O resultado foi dado a conhecer há dias em Lisboa.

 

 

Um ano depois de ter lançado as versões PR3 derivadas da sua máquina mais emblemática, a PR4, António Pinto e a equipa que produz a marca nacional de motos, apresentaram uma interessante e exclusiva ligação à banda de rock Xutos e Pontapés, lançando no mercado nacional e mundial as PR3 e PR4 Xutos e Pontapés. "Foi um contacto simples, feito pelos próprios Xutos em que nos pediram se não estariamos interessados em fazer uma moto com a imagem deles", refere o próprio António Pinto. "Nem precisei pensar. A resposta foi logo sim!", reforça o homem que tem estado sempre na liderança da empresa que mantém portas abertas da fábrica sedeada em Lousada, logo ao lado de Penafiel. Em pouco tempo, a opção foi ajustar os seus actuais modelos mais procurados, as PR3 e PR4 nas versões de 125 e 200cc, e também nas variantes Supermoto e Trail de lazer, à imagem da marca. "Deitámos mãos à obra. A AJP fez uns traços, os Xutos fizeram outros. O resultado penso que está muito interessante. O certo é que para nós foi um motivo de orgulho, muito orgulho mesmo, uma banda como os Xutos querer associar-se à nossa empresa", confirmou António Pinto.

 

A parceria entre a AJP e os Xutos resultou numa iniciativa em que se pretende promover a produção nacional.

 

Do lado da banda que tem um dos mais invejáveis e notáveis curriculos músicais em Portugal, também foi tudo muito simples e sobretudo norteado pela ideia de defender o produto nacional. Afinal eles próprios sabem do que se trata.. "Queremos promover o produto nacional. Um produto com um elevado grau de desenvolvimento, qualidade e paixão. Agora que conhecemos a AJP sabemos que não é uma firma muito grande mas está cheia de qualidades e gente boa", afirmou Tim o vocalista da banda.

Para eles esta ideia de se associarem a algo diferente no meio musical é uma novidade, mesmo que ele próprio e Kalú, o baterista, tenham moto e a utilizem com alguma frequência, "sim temos moto mas não foi por isso que aconteceu esta união. Andávamos à procura de algo que pudesse chamar o interesse pela produção nacional. Vimos nesta marca esse potencial. Gostei imenso de conhecer o António e toda a sua equipa e é pena que as motos deles sejam mais conhecidas lá fora que dentro do nosso mercado." e reforça o projecto "O facto da AJP ter aceite o nosso convite é motivo de grande satisfação. Foi a primeira vez que fizémos uma parceria com uma actividade extra-musical. Isto tem a ver com a nossa auto-estima e vontade em conquistar coisas através da nossa vontade e paixão. E eles também são assim" remata o vocalista que poderá optar por ter uma versão Trail para utilizar várias vezes durante a semana.

 

Um dia de apresentação a toda a imprensa do novo passo da AJP. As motos foram estrelas, em conjunto com a banda rock completa, os pilotos que ajudaram à promoção das máquinas, Jorge Brioso e Vanessa Alexandra.

 

Certo é que num ambiente agradável, simples e de gente de contacto directo, a vivência com os novos modelos aconteceu de modo muito positivo e todos os elementos da reputada banda acederam mesmo a explicar o que sentem pela marca de motos.

Cabeleira, o guitarrista, até pondera também passar a optar por andar de moto entre casa e os ensaios...

 

Tim e Kalú que andam de moto regularmente e fizeram questão de o demonstrar.

 

 

As PR3 e PR4, esta ultima mais alta na cota do assento, partilham os mesmos componentes e nesta versão surgem decoradas com a imagem dos Xutos: cores negras, logotipos a vermelho, raios pretos, rodas a preto com lettering, protecção de cárter em alumínio e ainda capacete e T-shirt da banda. Ao todo irão estar disponíveis 8 máquinas, entre as Trail e Supermoto (em baixo), nas cilindradas de 125 e 200cc. Os preços começam em 2995 euros.

 

 

Opinião pessoal

 

Um passo em grande.

 

Pessoalmente, acompanho a história da AJP e da equipa do esforçado António Pinto há muitos anos. Já vivi os momentos mais exclusivos e empolgantes da marca nacional que luta pela sobrevivência cá e lá fora. Vi e conheço muito do esforço incomparável que o próprio Pinto e os seus têm feito, dando muitas vezes pequenos passos em campo de gigantes... Com esta ligação aos Xutos, grupo que dispensa apresentações ou elogios, António Pinto deu provavelmente o mais importante e consistente passo no futuro da marca. Um passo consciente e real, que pode trazer à ainda pequena AJP a desejada (e merecida) projecção mediática. Pinto teve com esta apresentação à imprensa mais e melhor impacto do que teve durante muitos anos de luta especial e principalmente na imprensa diária e cor-de-rosa. É essa exposição que lhe faz falta. E de preferência positiva. Os Xutos deram-lha porque mostraram que estavam ali por vontade própria e não ao sabor da fotografia ou de um qualquer acordo. Todos incluindo Zé Pedro, ainda a recuperar de graves problemas de saúde. Só por isso a AJP já ganhou. E ganhou também no dia seguinte em que o reflexo da ideia era bem visto aos olhos dos média gerais. O presente pode estar garantido, mas o futuro também.

 

 

A aventura de uma vida

De AJP rumo à Africa do Sul

 

Junto com a apresentação das novas AJP Xutos, foi desvendado o projecto que o bem conhecido Osvaldo Garcia, ex-piloto de trial e mentor de muitas aventuras em solo nacional tem para realizar agora com uma AJP 200 Xutos e Pontapés. O nortenho irá ligar as cidades de Penafiel a Pretória, na África do Sul, aos comandos da máquina batizada com o nome da banda rock. A ideia é provar a fiabilidade e capacidade dos modelos produzidos pela AJP, ligando a cidade-berço da marca à cidade onde a Selecção Nacional de Futebol irá estar concentrada aquando da sua participação no Mundial de Futebol. Para Osvaldo Garcia será a "maior aventura da minha vida, mas talvez a primeira de muitas!", ele que desde há muito sonha com um trajecto deste género, "a ideia já existia há muitos anos, porque a minha infância e juventude foram vividas em Moçambique. Os meus pais já tinham um projecto que era vir de moto desde lá até Portugal. Vivi intensamente essa ideia, que nunca foi avante, mas ficou-me na cabeça", refere. Agora é altura de a por em prática, "inicialmente pensei em ir numa mini-honda, e num trajecto de Maputo até Lisboa. Quando resolvi deixar de pensar na viagem e passar á acção, propú-la ao Pinto. Ele gostou do desafio mas pediu-me para fazer a viagem ao contrário e com partida de Penafiel. Aceitei".

Previstos estão dois meses e meio de viagem, mas o mais curioso é que será feita completamente a solo, ou melhor apenas com a AJP e um GPS por companhia. "Gosto de rodar sozinho. Tenho o apoio do GPS e através da Internet todos podem saber onde estou a todo o momento.".

O plano ja está traçado e mais que simplesmente rodar em asfalto, a aventura passa sempre pelo todo-o-terreno. "O percurso está definido e irá ter muita terra. Tento escolher o máximo de asfalto, mas nalguns países, como a Mauritânia, é muito complicado encontrar asfalto. Por isso vai ser uma aventura mais intensa. Pretendo rodar só de dia e parar em povoações, nunca no meio do nada. Levo uma tenda mas vou tentar sempre ficar em hotéis para descansar mais.

 

 

Além disso quero ficar em casa de amigos. Tenho um nos camarões, outro em Angola. Aí aproveito para descansar um dia ou dois, especialmente a parte do estomago!"

A poucas semanas do arranque de Penafiel tudo está a ser tratado desde a documentação à moto, mas nem tudo tem sido fácil. "Está complicado ter o visto para entrar em Angola. Exigem-me um bilhete de avião de ida e volta, mas eu vou entrar por terra. Não está fácil mas acho que vamos conseguir. Quanto á moto, o Pinto queria que fosse na nova PR5 250 mas como tem injecção, é preferível não arriscar com um sistema desses com as gasolinas esquisitas que há em África. Eu queria ir ir na PR4 125 mas o Pinto achou que seria melhor ir na versão de 200cc. A moto vai ter algumas transformações, uma carenagem para levar depósitos suplementares e o GPS além do road-book. O assento será um pouco mais largo e os pousa-pés um pouco mais largos porque gosto de andar de pé e tenho de descansar um pouco o traseiro", refere com entusiasmo  Osvaldo. Certo é que também para ele esta aventura será por tudo especial, "é o momento certo porque faço uma homenagem aos Xutos e à selecção de futebol. Mas também vou passar em Moçambique, em locais que recordo. Vai ser uma grande aventura. Espero que fique na memória. Estou com 52 anos e como agora já sou avô, quero que o meu netinho quando for para o liceu diga que o avô dele era mesmo marado".