Qualidade em português.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Gabriel Penedo e as fotos de Jorge Morgado.

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~São estas as duas Anfesas que hoje apresentamos aos nossos leitores. Em cima a RT 250 destinada ao Enduro e em baixo a RV 50 para uso misto.

 

 

 

Em várias ocasiões temos ouvido dos nossos leitores o desejo de conhecer os fabricantes nacionais de motociclos. Nada mais justo. E a indústria nacional bem merece o nosso apoio. Assim, respondendo a esse ansejo decidimos iniciar uma série de visitas a fabricantes nacionais. Apresentar os seus produtos e dar a conhecer a empresa.

Coube à Anfesa inaugurar esta série com os seus modelos RT 50 e RV250, com duas interessantes propostas para o todo-o-terreno. Com material de reconhecida qualidade são uma aposta no nosso mercado que rivaliza com produções de outros países, até no preço.

 

 

 

As linhas da Anfesa RV 250 são agressivas e bonitas ao mesmo tempo. Vista de frente só lhe falta a protecção do disco a acompanhar as protecções da suspensão invertida. Vista de trás notamos a integração harmoniosa do escape e a altura razoável do banco.

 

 

Todos os fabricantes de motociclos desejam ver os seus produtos aceites pelo grande público. Não só porque dessa forma a empresa pode aspirar à realização de mais e melhores projectos como é o garante da sua sobrevivência.

 

Pouca unidade.

 

Até à abertura do mercado nacional a nossa indústria centrou a sua produção nos modelos de 50cc. A população exigia apenas um veículo versátil, mas robusto, destinado essencialmente para as deslocações diárias para o emprego. As marcas proliferaram embora, em termos de fabricantes de unidades motrizes, as hipóteses não fossem além de duas ou três casas que para além de fornecerem os motores para os seus próprios modelos ainda forneciam para outros fabricantes de menor dimensão e sem hipóteses de investirem no estudo, desenvolvimento e concepção de motores. Era mais facil comprar o que já estava feito e aprovado.

Hoje, são seis as marcas nacionais produtoras de veículos de duas rodas. E apenas três possuem motores próprios.

Com a abertura do mercado foi necessário apresentar modelos capazes de fazerem frente às propostas estrangeiras. No caso da Anfesa, talvez a mais nova de todas, os motores Casal continuam a predominar na sua produção. Mas muito do restante material  que compõe uma moto tem de ser adquirido noutros países. "Até para um simples tubo, que servirá para o quadro, temos de recorrer ao estrangeiro", disse-nos António Ferreira dos Santos, responsável pela Anfesa.

 

 

Projectos.

 

Desde 1984, ano em que iniciou a sua actividade com a comercialização de motociclos, idealizava vários projectos. Um deles para a concepção de uma moto de todo-o-terreno essencialmente virada para a competição. Foi no ano passado que surgiu a forma definitiva de tal projecto. Com a denominação de Anfesa RV 250 esta máquina tem uma irmã menor, de 125cc. O material utilizado é do melhor, como podem ver pela ficha técnica. A começar no motor e a terminar na ciclistica.

 

Tanto o guarda-lamas traseiro como o dianteiro e as tampas laterais são da marca Acerbis. Qualidade garantida.

 

Apresentação.

 

Com linhas agradáveis, próprias de uma máquina de motocross, a RV 250 é, pela forma como está equipada, uma máquina de Enduro. Nem a instalação eléctrica ou o descanso central faltam. E caso assim o deseje, o cliente pode circular na estrada com a RV já que, de origem, ela possui luzes indicadoras de mudança de direcção.

Os plásticos Acerbis em tom de branco e o depósito contrastam de forma sóbria com o banco azul. Por baixo desse vestuário encontramos um quadro tubolar em aço cromomolibdénio que para além de elemento integrante da ciclistica possui ainda a função de canalizar ar fresco para a caixa do filtro de ar localizada junto ao monoamortecedor traseiro. Uma ideia original que destacamos.

 

Suspensão invertida e travão de disco brembo. Dois elementos que seguem o que de melhor se faz nestes sectores. O resultado é bom.

 

Motor.

 

A unidade motriz Rotax de 250cc desenvolve 48cv às 8500rpm sendo de notar na curva de potência uma linearidade progressiva a que não será estranha a válvula de escape. Até às 7000 a potência cresce de uma forma progressiva para estabilizar entre as 8000 e 8500rpm, regime máximo. Na prática o motor mostra-se fácil de conduzir, apesar de um pouco pontudo. Após algum tempo de condução é possível disfrutar plenamente da sua capacidade de resposta ao punho de acelerador que nos tira de situações mais delicadas.

Com refrigeração liquida este Rotax possui dois radiadores, mas da KTM. A sua alimentação é efectuada através de um carburador Mikuni de 34mm, o ar para a mistura é canalizado pela trave superior do quadro que possui duas entradas laterais colocadas por cima dos radiadores KTM. A admissão é efectuada por lamelas.

Para pôr a trabalhar este dois tempos devemos accionar o pedal localizado no lado esquerdo, como é característico dos motores desta marca.

 

Também atrás a RV 250 está equipada de travão de disco que nos pareceu mais potente que o dianteiro.

 

Ficha técnica
Anfesa RV 250
Motor
Tipo- Monocilindrico Rotax a dois tempos
com refrigeração liquida ( 2 radiadores) e
válvula de escape
Diâmetro x Curso- 72 X 61mm
Cilindrada- 248cc
Taxa de compressão - 14,5:1
Arranque- por pedal do lado esquerdo
Alimentação- Por carburador Mikuni VM 34
Admissão- Por lamelas
Lubrificação - Mistura de 1:40
Transmissão
Primária- Por engrenagem
Embraiagem- Centrífuga em banho de óleo
Caixa- 5 velocidades
Secundária- Por corrente
Montagem
Quadro- Duplo berço tubolar em aço
 cromomolibdénio 
Suspensão dianteira- Forquilha 
telehidráulica invertida
Suspensão traseira- monoamortecedor 
Ohlins com 9 posições
Travão dianteiro- Disco Brembo de 260mm
Travão traseiro- Disco de 260
Pneus- Pirelli MT 17 100\80-21 na frente
e 120\90-18 atrás
Largura- 820mm
Peso- 99kg
Combustível- 10 litros
Potência- 48cv ás 8500 rpm.

 

Excelente proposta para o mercado das 50cc. Linhas bonitas, acabamentos cuidados e equipamento completo para um veículo capaz de competir com outras produções.

 

 

Ciclística.

 

O quadro tubolar em aço cromomolibdénio com secção posterior desmontável em alumínio está acoplado, na frente à suspensão invertida e atrás ao braço oscilante de alumínio ligado ao monoamortecedor Ohlins (nove posições possíveis).

O funcionamento destes elementos foi do nosso agrado, embora atrás existisse uma certa dureza. Esse facto fica a dever-se ao facto dos elementos serem novos.

Para qualquer operação na unidade traseira de suspensão é possível desmontar o quadro cuja secção posterior é de aluminio.

Para travar o "bólide" existem dois discos da bem conhecida marca italiana Brembo.

Com 260mm de diâmetro travam com eficácia, em particular o traseiro.

De uma forma geral gostámos da Anfesa RV 250. Nota-se que foi desenvolvida segundo as indicações de alguém directamente envolvido no Motocross. E essa pessoa foi Ricardo Santos, filho de António Ferreira dos Santos e campeão nacional de motocross em juniores.

 

 

Misto terra/ asfalto.

 

A segunda produção da Anfesa que hoje apresentamos é uma 50cc bastante atraente, diga-se de passagem.

Em termos de decoração as suas linhas seguem o que se faz nas trail desta cilindrada, sem recorrer ao supérfulo depósito de generosas dimensões alusivo ao Paris Dakar. O motor utilizado é o conhecido Casal M105 com refrigeração liquida e caixa de seis velocidades que desenvolve 7,3cv. No contacto que estabelecemos com esta unidade motriz só as situações mais difícies na terra foram obstáculo para tão pequena cilindrada.

 

O motor que equipa esta 50cc é o M105 da Casal. Desenvolve 7,3cv e só em certas situações, na terra, se mostrou insuficiente, dada a cilindrada.

 

Fácil de conduzir.

 

Em termos de ciclística esta pequena Anfesa possui quadro em tubo de aço sendo a secção posterior desmontável no mesmo material mas, em breve, será de alumínio. Suspensão Betor na frente e monoamortecedor De Carbon atrás completam a RT que possui, tanto na dianteira como na traseira, travões por disco sendo de esperar também para breve a introdução de um disco traseiro de maiores dimensões que irá melhorar a travagem em todas as situações.

Ágil, permite passeatas com desenvoltura na prática do todo-o-terreno e mesmo na estrada ou cidade, por entre o trânsito. A posição de condução é uma das melhores que tivémos oportunidade de testar nas baixas cilindradas. No asfalto, em curva, é bastante estável e fácil de colocar. As suspensões permitem ultrapassar os buracos e demais armadilhas das nossas estradas com o conforto conhecido de qualquer trail. Os pneus de uso misto não reservam surpresas de maior.

 

Pormenor bastante curioso para os que desejem praticar todo-o-terreno. Uma placa de plástico flexível permite proteger o farol dianteiro.

 

Ficha técnica
Anfesa RT 50
Motor
Tipo- Monocilindrico Casal  a dois tempos
com refrigeração liquida  com bomba Casal
e radiador KTM
Diâmetro x Curso- 40 X 39,7mm
Cilindrada- 49,9cc
Alimentação- Carburador Dell"Orto de
22mm
Admissão- Por lamelas
Transmissão
Primária- Por engrenagens de dentes
direitos
Embraiagem- Multidisco em banho de óleo
Caixa- 6 velocidades
Secundária- Por corrente
Montagem
Quadro- Berço tubolar com secção 
posterior desmontavel em aço ( em breve 
será de aluminio)
Suspensão dianteira- Betor de 38mm 
de diâmetro
Suspensão traseira- monoamortecedor 
De Carbon com braço oscilante em
cromomolibdénio
Travão dianteiro- Disco de 320mm
Travão traseiro- Disco de 275mm (em breve
será substituido por outro de maiores
com 300
Jantes- Akront
Pneus- 2,75\21 na frente e 3,50\18 atrás
Dimensões
Distância entre eixos- 1440mm
Altura do banco - 980mm
Largura- 720mm
Altura do guiador- 1170mm
Peso- 80kg
Potência- 7,3cv

 

 

Travão de disco de generosas dimensões na frente e suspensão invertida com protecções. A proposta não podia ser melhor.

 

Também atrás existe travão de disco. No entanto, num futuro próximo as suas dimensões passarão dos actuais 275 para 300mm.

 

A técnica.

 

Nestas duas páginas apresentamos os elementos que constituem a Anfesa RV 250. Não foi por acaso que decidimos apresentar este trabalho. O modelo possui material de boa qualidade e com algumas ideias engenhosas idealizadas por António Ferreira dos Santos e seu filho. Um projecto audaz que já deu as suas provas em jornadas nacionais de Motocross e Enduro. Tal como o de 125cc. É com bastante orgulho que nos desvendaram o segredo desta dois e meio com motor Rotax. E para mais um modelo com preço competitivo em relação aos produtos japoneses da mesma cilindrada. A ver com atenção.

 

Esta é a unidade motriz Rotax que equipa a Anfesa RV 250. Como podem ver em cima estão disposto o pistão, cilindro, biela, selector de caixa e pedal de arranque ao lado de um motor montado.

 

O escape cujos elementos são soldados nas instalações da Anfesa.

 

É bem visível a localização da válvula de escape.

 

Todos os elementos da ciclística estão presentes nesta fotografia; braço oscilante em aluminio, mono amortecedor Ohlins, quadro em tubo de secção tubolar desdobrado em baixo, secção do posterior do quadro desmontável também em aluminio e a suspensão dianteira invertida.

 

Nesta fotografia estão bem patentes as entradas de ar no quadro (esquerda) e saída para a caixa do filtro de ar (direita), localizada por trás do amortecedor.

 

Para melhor acesso ao amortecedor traseiro é possivel desmontar a secção posterior do quadro (de secção quadrada). A suspensão Ohlins permite nove posições de hidráulico.

 

Este aspecto da RV sem depósito, banco e secção posterior do quadro. O escape encaixa de forma harmoniosa nos restantes elementos. De notar ainda o descanso central, característico dos modelos de Enduro.

 

Cilindro e pistão do motor Rotax de 249,9cc. Com diâmetro e curso de 40 e 39,9mm permite desenvolver 48cv às 8500rpm. São visíveis no pistão os dois transferes de admissão e de escape, de maiores dimensões.

 

A mistura ar gasolina é concebida com o carburador Mikuni VM34.

O resultado é transmitido para as lamelas de admissão.