Anfesa RT 125

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto é da responsabilidade de António Lopes\José Lopes e as fotos de Jorge Morgado.

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O que se pretende de uma "Trail"?

"Trail" é uma moto com várias utilizações, podendo ser usada na estrada, no campo e na cidade, por pessoas de todas as idades, servindo de divertimento ou de meio de transporte. É, portanto, o tipo de moto polivalente que existe.

Por estas características, as "trails" são as motos mais procuradas na Europa. Para confirmar, temos o exemplo da famosa DTMX que, tanto em Portugal como nos países da Europa, foi dos modelos com maior número de vendas.

A Anfesa RT 125 é uma verdadeira "trail", satisfazendo todas as exigências a que uma "trail" tem de obedecer.

Devido ao baixo poder de compra dos portugueses e ao seu tipo de estradas, achamos que é uma moto que se adapta perfeitamente às exigências dos nossos "motards". Saber copiar é um dom.

 

 

A RT tem um visual moderno e agradável, lembrando os mais recentes modelos japoneses e italianos, atraindo qualquer pessoa, conhecedora ou não. Os acabamentos agradam e nota-se que houve preocupação em produzir com qualidade. Foram usados pneus Metzeler, forqueta Betor de eixo avançado, monoamortecedor tipo "canti-lever", com um amortecedor Stromberg, um silencioso em alumínio de muito boa qualidade, depósito, tampas e pára-lamas de trás em fibra, um carburador Mikuni e um motor Hodaka, japonês, refrigerado a ar, com caixa de cinco velocidades.

A Anfesa, com o seu modelo de 50cc de Enduro, já nos tinha habituado a uma produção de boa qualidade. A RT dispõe-se a confirmar a tradição da marca.

 

 

Estética

 

A Anfesa RT 125 é muito parecida com a Yamaha 125 DTLC. O conjunto depósito-banco faz lembrar as mais recentes motos de "motocross", assim como os pára-lamas e as tampas laterais, tendo este conjunto um agradável ar desportivo. O farol da retaguarda e a placa da frente adaptam-se muito bem ao estilo da moto.

As cores disponíveis são: preta, com banco vermelho; amarela, com banco preto; verde com banco preto. Todas estas combinações formam um conjunto que chama a atenção.

 

 

Acabamentos:

 

O apoio dos piscas não é rigido, o que não diminui as possibilidades, em caso de queda, de se partirem. Em relação ao que nos habituámos nas motos portuguesas, nota-se uma grande evolução pela utilização de materiais de muito boa qualidade, como o silencioso, de aluminio, os aros Akrom, forqueta Betor, bom acabamento do braço oscilante, e do próprio quadro, e do encaixe harmonioso de todos os componentes. Por outro lado, há pontos a rever: a pintura é pouco resistente, e a espuma e o forro do banco não são da melhor qualidade.

 

 

Equipamentos:

 

Em relação ao velocímetro, achamos que, não tendo a qualidade japonesa, funciona bem. O mesmo já não se pode dizer do conta-rotações, que trabalha deficientemente, havendo uma grande disparidade entre as rotações do motor e as indicadas, parecendo mais ser accionado pela vibração.

Os comandos eléctricos são agradáveis, mas o interruptor da buzina está mal colocado. De realçar a existência de um botão para ligar os mínimos separadamente dos outros comandos de luzes, o que se torna bastante prático, pois, como todos sabemos, é obrigatório circular com as luzes acesas. As "manetes" são de plástico, com a vantagem de se partirem com menos facilidade, mas que torna o travão da frente pouco preciso. O curso do acelerador, o que torna uma condução fora de estrada cansativa e dificil.

Nota-se a ausência de um corta-circuitos de facil acesso, para ser accionado em caso de perigo.

Chamamos a atenção para a boa qualidade do canhão de ignição, não tendo qualquer comparação com as ignições utilizadas nas motos nacionais. O pedal de travão está mal concebido, passando por baixo do quadro e não oferecendo comodidade ao seu utilizador, assim como o pedal das mudanças, que, apesar de ser recolhivel em caso de embate, se encontra muito longe do pisa-pés, obrigando o condutor a calçar "45". Nota alta para os pisa pés de trás que são solidários com o quadro e não com o braço oscilante, como era habitual e que proporciona uma maior comodidade para o passageiro.

O "Kick-Starter" é muito pouco prático, não recolhendo automaticamente. Quando estamos em cima da moto, é-nos bastante dificil colocar o descanso, por estar colocado muito à frente.

 

 

Acessibilidade.

 

Agradou-nos bastante o acesso ao filtro de ar. Consegue-se desmontá-lo sem utilizar uma única ferramenta e em pouco tempo.

Todos os restante orgãos são de facil acesso e desmontam-se sem problemas, contribuindo para isso a desmontagem das tampas laterais

 

 

 

 

 

Suspensões.

 

A Anfesa 125 RT vem equipada à frente com amortecedores Betor de eixo avançado, e atrás com uma suspensão "canti-lever" equipada com amortecedores Stromberg regulável na dureza da mola, fazendo-se esta afinação através de porca e contraporca. Em relação à suspensão da frente, nota-se uma certa dureza, o que torna a condução um pouco desconfortável. Contudo, é de grande eficiência, permitindo uma condução fora de estrada rápida e sem se verificarem reacções inesperadas. Na estrada, a dureza da suspensão da frente é ainda mais notada, o que torna a condução menos agradável. Esta dureza que verificámos é perfeitamente ultrapassável com uma afinação adequada. Sabemos, inclusivamente, que o construtor está a par deste problema, estando as suspensões das motos que vierem a ser postas à disposição do público bastante mais moles. Para isso, a mola foi cortada em cerca de 3 centímetros e utilizou-se um óleo mais fino.

No que diz respeito à suspensão de trás, o construtor informou-nos dispor de válvulas que permitem diferentes afinações de compressão e distenção do hidráulico do amortecedor.

A suspensão revelou-se pouco eficiente, tanto em terra como em estrada. Notámos que durante a distenção do amortecedor ele funciona deficientemente, verificando-se que, nas travagens, a roda de trás tem tendência a saltitar continuamente. Para além do problema hidraulico, achamos que a mola deveria ser mais dura. A falta de dureza da mola do amortecedor e o seu pouco hidraulico acentuam-se quando andamos com "pendura".

 

 

Travões:

 

Os cubos dos travões são cónicos e foram concebidos pela Anfesa. São progressivos. O de trás é eficiente, tanto em estrada como fora dela. Para accionar o travão da frente é necessário exercer muita força, notando-se, mesmo assim, alguma falta de potência. Este defeito agrava-se, uma vez que a "manete" é de plástico sendo, portanto, muito pouco rigida.

 

 

Motor.

 

O motor Hodaka é um monocilindrico a dois tempo refrigerado a ar com 123cc (54 x 50), alimentado por um carburador Mikuni de 26mm. Possui uma caixa de 5 velocidades, mais adaptada a uma utilização em estrada do que em terra. Esta característica é atenuada pelo bom comportamento do motor, que é utilizável em todos os regimes de rotação. Mesmo dispondo de uma primeira velocidade muito comprida, pode-se, por exemplo, arrancar  numa subida muito acentuada, permitindo, inclusivamente, evoluir por zonas "trialeiras" quase sem utilização da embraiagem.

A embraiagem é pouco progressiva e não embraia completamente, notando-se, quando se engrena a 1ª, que a moto tem tendência a andar para a frente. Pensamos que é devido a este pormenor que se torna um tanto dificil encontrar o ponto morto.

Não tivemos oportunidade de comprovar, mas, teoricamente, este motor deverá ser muito resistente devido à sua baixa taxa de compressão (7,3:1) e ao seu baixo regime máximo de rotação. O construtor põe como opção a utilização ou não de uma bomba de óleo para lubrificação automática.

 

 

Comportamento em estrada.

 

Quando nos sentamos na RT, a primeira sensação é de formarmos um conjunto único com a moto. Para isso contribui o desenho do banco e do depósito. O guiador está bem posicionado, no entanto, poderia ser um pouco mais largo. Os poisa-pés também estão bem posicionados, o mesmo já não se podendo dizer do pedal de travão e do selector das mudanças que, para serem accionados, obrigam o condutor a tirar os pés dos poisa-pés.

Com uma boa posição de condução, com um banco confortável, com uma suspensão de trás mole, se não fosse uma certa dureza da suspensão dianteira e algumas vibrações, teriamos uma moto muito confortável.

Inclusivamente para o passageiro, que dispôe de poisa-pés solidários com o quadro.

A RT  satisfaz em qualquer tipo de estradas, desde a cidade, passando pelas estradas de montanha até às estradas de bom piso e com muitas rectas. Estas qualidades devem-se à sua grande maneabilidade e estabilidade, ajudadas pelo motor, que possui uma curva de potência muito progressiva e permite uma boa aceleração. Por outro lado, o escalonamento da caixa de velocidades faz com que a RT tenha uma boa velocidade de ponta (na ordem dos 120km\h). Fazemos uma ressalva para o travão da frente, que é pouco potente, e para a suspensão de trás, que em situações extremas torna a moto imprecisa e faz mesmo com que se sinta uma certa sensação de insegurança. Estas duas características só são notadas numa condução desportiva, pois numa condução turística quase passam despercebidas.

 

 

Terra.

 

Como "Trail" que é, a RT passa da estrada para o campo sem grande dificuldade. Possui mesmo algumas características endurísticas. O quadro proporciona uma grande maneabilidade, mas, ao mesmo tempo, não deixa de fazer com que a moto seja estável. Sem se entrar numa condução rápida e muito exigente, as suspensões cumprem perfeitamente, assim como os travões. Mas, se gostarmos de acelerar um pouco, depressa damos conta de que a suspensão traseira e o travão da frente não estão ao nível do conjunto.

A suspensão de trás é demasiado mole, acusando reacções estranhas nas travagens e na passagem de qualquer buraco ou desnível. Reacções estas que são provocadas pela já falada má afinação hidráulica do amortecedor, principalmente na distensão.

Em relação ao travão da frente, como já dissemos, ele acusa uma falta de potência que pode provocar algumas situações embaraçosas aos mais "aceleras", pois, como sabemos, uma condução fora de estrada é feita de imprevistos, o que concede aos travões um papel muito importante.

Neste tipo de terreno, a posição de condução também é boa. No entanto, é mais notada aqui a má colocação do pedal do travão e das mudanças.

O curso exagerado do acelerador e a pequena largura do guiador prejudicam a condução em tera. Estes dois pontos negativos podem facilmente ser ultrapassados, pois encontram-se à venda no mercado nacional produtos deste tipo a um preço acessível e de boa qualidade.

Apesar do motor parecer mais adequado à estrada, ele adapta-se perfeitamente à condução em terra, contribuindo para o bom comportamento da moto.

 

Conclusão.

 

Depois do lançamento da Anfesa 50cc de Enduro, a apresentação da RT 125 suscitou grande espectativa no sentido de saber até onde poderia ir o sr. António Ferreira dos Santos, pequeno construtor de Alcobaça, mas com grandes ambições.

Verificámos que a expectativa que rodeava este lançamento era plenamente justificada.

Conseguiu-se fabricar em Portugal uma moto de qualidade, estando em alguns pontos ao nível das estrangeiras.

Pensamos que esta Anfesa vai ter um grande sucesso; é bonita, é bastante versátil, tem um bom motor, tem peças de qualidade e é muito barata. Estes argumentos vão compensar os defeitos que ela também tem: a suspensão de trás, as vibrações, o travão da frente, a embraiagem e alguns pormenores menos cuidados. Ficamos à espera das novas realizações deste construtor, que sabemos estarem para breve e que prometem!

(Nota: Fomos informados pelo construtor que alguns pormenores podem ser de opção, tais como: lubrificação separada, cor e tipo do forro do banco, relação cremalheira/pinhão de ataque).

 

 

Ficha técnica
 
Motor
 
Tipo Hodaka monocilíndrico a dois 
tempos, refrigerado a ar.
Cilindrada 125cc
Curso 50mm
Diâmetro 54mm
Taxa compressão 7,3:1
Potência 11,5cv às 7300 rpm
Alimentação Carburador Mikuni tipo VM 26
Ignição Volante magnético
Combustível gasolina com mistura de 5% de óleo
Arranque Kick- Starter
Iluminação 6v, 35w
 
Transmissão
 
Caixa Hodaka de 5 velocidades
Embraiagem Centrifuga de banho de óleo
 
Montagem
Quadro Tubo de aço de secção redonda
Suspensões Frente: forqueta Betor de 38mm
Trás: Suspensão tipo "canti-lever"
com amortecedor Stromberg
Travões tambor
Comprimento 2006mm
Distância entre eixos 1365mm
Altura ao solo 1165mm
Peso 98kg
 
Capacidades
Depósito 8,5l
 
Performances
 
Velocidade máxima 110km/h
Consumo 3,5l./100km/h