Casal Arizona. A nova vaga |
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Rui Marcelo e as fotos de Photocourse. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Conhecida pelas suas tradicionais produções de motociclos e ciclomotores, destinados a um público mais "maduro" e que pretende um veículo simples, pouco modernizado e de baixos custos, a Casal pretende agora entrar numa nova fase, quer seja da sua vida como das produções que saem das linhas de fabrico da casa aveirense. Com a arizona, a Casal mostra que quer seguir um novo rumo, enveredando por soluções cada vez mais actualizadas e próximas da qualidade imposta por japoneses e italianos. Em Aveiro adivinha-se uma "maré" de novidades...
Apesar da indústria nacional parecer estar morta e praticamente inactiva, o esforço dos seus principais intervenientes produtivos é sem dúvida de louvar. Seguindo os caminhos que também outras marcas enveredaram, a Casal pretende mudar talvez "radicalmente" a sua imagem apostando em produtos aparentemente mais modernizados e actualizados. Depois de ter visto grande parte da sua estrutura organizativa e burocrática alterada, a Metalurgia tenta agora não perder o comboio do sempre competitivo mercado das baixas cilindradas, liderado sempre pelas produções que vêm do exterior. A Arizona 50 poder-se-á considerar como a primeira tentativa para que o construtor nacional dê um importante passo com vista ao futuro.
A aposta na qualidade.
Um dos principais pontos que muitas vezes faz a diferença entre aquilo que se produz dentro de fronteiras e o que nos chega do estrangeiro é qualidade. Procurando agora não descurar este ponto vital nas suas produções- facto de que são acusados e que levou alguns construtores nacionais à decadência total- a Casal pretende que a Arizona mostre igualmente ares de qualidade. A construção de muitos dos seus componentes é agora mais cuidada e vários pormenores foram revistos e melhorados. Os plásticos e pintura são de boa qualidade, pecando apenas por alguma incorrecta ligação das duas carenagens frontais e das tampas laterais. A estética de todo o conjunto pretende ser a de uma moto simples, agradável e atractiva, apostando igualmente em cores simples- amarelo, verde, e cinza- e muito semelhante às motos de Supermotard
O painel de instrumentos é bastante completo. Os comandos são actualizados e funcionais. A zona frontal é bastante baixa e a posição de condução acessivel a todos.
A Arizona apresenta uma torneira de combustivel de qualidade ao contrário de muitas outras produções de baixo nível por aí existentes. Facil acesso.
O motor continua o mesmo, com refrigeração liquida, admissão por lamelas e um comportamento muito satisfatório em alta.
A forquilha Paioli funciona bastante bem. A possibilidade de regulação permite alterar um pouco o seu comportamento, o travão é potente mas um pouco brusco em demasia.
O conjunto traseiro mostra sinais de qualidade. O travão cumpre com eficácia, bem como o sistema de amortecimento.
Mais equipamento
Em termos de equipamento muitos pormenores foram melhorados. Começando pela instrumentação é de referir o facto de o painel possuir um relógio digital, luzes de intermitentes, máximos e médios, faltando apenas a luz avisadora de ponto morto ( neutral). O painel possui ainda taquímetro e velocímetro electrónicos, produzidos pela Faconsa. Os comandos são também bastante mais modernos, abandonando-se tradicionais "interruptores" que deixavam de funcionar depois de pouco tempo de uso. Agora mostram qualidade e funcionamento correctos. Continuando no equipamento, a Arizona possui nova torneira de combustível de fácil e rápido acesso. ; pega para o pendura atrás, faltando ainda uma pequena grelha porta-bagagens; intermitentes de maior qualidade; banco fechado por entermédio de chave; tampão do depósito de combustível com chave e jantes de liga leve, são alguns dos elementos mais destacados. Na ciclística não se verificaram alterações de vulto. O quadro dupla trave construido em aço estampado é o mesmo já utilizado nas Magnum de estrada, moto no qual deu cartas quanto às suas capacidades. A forquilha dianteira telescópica fabricada pela Paioli é também muito semelhante ao modelo utilizado nas versões de estrada, possuindo igualmente regulação do hidraulico, mas com mais curso que na versão de estrada. Atrás é utilizado um sistema monoamortecedor de acção directa ( sem sistema articulado). O braço oscilante é o mesmo da Magnum. Também nos travões não há nada a destacar, mantendo-se o disco à frente e o travão de tambor com dupla came de accionamento atrás.
Arranque eléctrico e mistura automática.
Em termos de motor, registam-se agora algumas novidades. A primeira é a adopção do sistema de mistura automática separada (autolube), numa solução bastante bem vinda já que os tradicionais sistemas de lubrificação por mistura prévia estavam a tornar-se demasiado obsoletos e não correspondiam às necessidades do habitual utilizador. A segunda alteração, já existente nas Magnum, é a adopção do arranque eléctrico o que facilita em muito a utilização do motor e eleva o nível deste modelo- não se esqueçam que muitas estrangeiras apenas possuem pedal de arranque! A refrigeração continua a ser por liquido, com a montagem de um radiador de expansão de grande capacidade. Todo o motor foi revisto e refinado quer em termos de curva de funcionamento, como de carburação e exaustão, tendo agora sido montado um novo sistema de escape. A caixa mantem-se a mesma com as suas 6 velocidades e a transmissão final por corrente.
A Arizona é o fruto da aposta da Casal num "novo" mercado e o espelho do "Know how" adquirido ao longo de muitos anos.
Agradável em alta.
Se esteticamente a Arizona é agradável, também funcionalmente isso acontece. Apesar das suas dimensões serem bastante reduzidas, a Fun Bike" nacional é bem acessível a vários tipos de estaturas. Qualquer condutor chega facilmente com os pés ao solo, bem como se posiciona " integralmente" em toda a moto não cansando demasiado os braços ou pernas. O assento é demasiado mole e na sua parte frontal afunda em relação à zona reservada ao pendura, obrigando-nos a conduzir sempre com o corpo muito à frente. Um ponto a rever. Outro ponto a alterar penso ser o descanso lateral, demasiado comprido, colocando em perigo o estacionamento da moto. O depósito, com capacidade mais que suficiente para uma cinquenta apresenta igualmente formas bastante ergonómicas. Facilmente colocado em funcionamento, o motor da Arizona emite um trabalhar bastante agradável pautando-se por um pouco metálico. Um pouco "preguiçoso" em baixa o seu regime ideal de funcionamento mostra-se apartir das 5500rpm, valor desde o qual responde muito melhor, entregando toda a sua força até às 8500rpm, atingindo aqui a sua potência máxima, cifrada em 7,3cv segundo dados de fábrica. Contudo, a capacidade de fazer rotação é bastante elevada, levando a agulha do conta rotações a atingir valores bem dentro da sua zona vermelha. A caixa não é muito precisa, e talvez não apresente o escalonamento mais ideal, nada ajudado pelo facto de possuir falsos pontos mortos entre as seis velocidades. A embraiagem é progressiva e resistente - facto a que sempre nos habituaram os construtores nacionais.
Comportamento regular.
Em termos de ciclística a Arizona agradou-me razoavelmente. As suspensões funcionam bastante bem, especialmente a dianteira respondendo positivamente tanto em compressão como distenção. O sistema de amortecimento traseiro, apesar de de não possuir braços de articulação, também não necessita reparos de maior. Apenas o ângulo da coluna de direcção me pareceu demasiado exagerado ( muito fechado) fazendo com que se conduza sobre a frente. O ângulo de viragem deste elemento também não é o melhor dado que é demasiado pequeno. Um ponto a rever. Os travões são potentes e eficazes, mas pouco progressivos fazendo bloquear as rodas com demasiada facilidade. Talvez este facto se devesse à sua pouca utilização. A forquilha não mostra sinais exagerados de torção, permitindo algumas brincadeiras mais atrevidas. Quanto aos pneus, apesar de poucos reparos, penso que existem no mercado outras propostas com qualidade ligeiramente superior. Com o seu baixo centro de gravidade, as reduzidas dimensões de todo o conjunto, a facilidade de condução e o comportamento bem vivo do motor em alta rotação a Arizona poderá ser uma boa proposta dentro do segmento em que é incluída- especialmente pelo valor a que é proposta, 343.000$00- fazendo frente, tanto às rivais estrangeiras como às "velhas" produções nacionais. Resumindo, a Arizona prentede ser a primeira "Supermotard" nacional de baixa cilindrada, apostada em oferecer ao público português um produto robusto, fiável, de prestações interessantes, de baixo custo e que concorra de igual para igual com máquinas que já têm grande gabarito entre nós, servindo ao mesmo tempo de catapulta para maiores vôos por parte da casa de Aveiro. A indústria Nacional bem o necessita.
|