Casal Magnum

Renovação

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma Revista Motociclismo . O texto é da responsabilidade de J. Carlos de Almeida e as fotos são da responsabilidade de Alberto Pires.

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Ainda a recuperar da forte crise que afectou a indústria nacional na década de 80, a Metalurgia Casal quer surpreender com realizações que seriam impensáveis num passado recente. A Magnum é um dos produtos nascidos da reestruturação.

 

 

Na verdade poucas empresas portuguesas ligadas à produção de motos e ciclomotores têm as  condições da Casal para poder renascer das cinzas, dado que a marca de Aveiro é a única no nosso país capaz de projectar e construir nas suas próprias instalações a maioria dos componentes que utiliza, garantindo assim uma fidelidade ao desenho original e um controlo de qualidade dificil de manter no caso do recurso a fornecedores exteriores.

Nesse sentido, entrou em funcionamento este ano uma nova empresa com participação de capital da Metalurgia Casal denominada Casal Laboratórios que, em colaboração estreita com a Universidade de Coimbra, estuda e desenvolve diversos projectos que se relacionem com esta indústria sendo ainda de referir que esta empresa, apesar de estar instalada no espaço da Metalurgia, não servir apenas a marca de Aveiro, mas também todos os que a ela recorrerem.

Apresentada oficialmente na Bicimota de 1992, a Magnum constitui o novo "cavalo de batalha" da marca.

 

Motor quase novo

 

Embora tenha herdado da RZ alguns componentes ( piscas, aros, jantes, meio carter, cambota, biela, pistão e caixa de velocidades) o produto final está bastante longe da antecessora. A metade esquerda do carter foi modificada, tal como a respectiva tampa para receber o arranque eléctrico ( indispensável num modelo actual) mas manteve inalterada a sua estrutura interior que recebe a conhecida caixa de seis velocidades, baseada nas utilizadas pelas Casal- Huvo que participaram, com sucesso, no mundial de velocidade e a mesma cambota, sendo apenas de registar a nova embraiagem que é facil no manejo e suporta eficazmente o aumento de binário do novo grupo termodinâmico.

A biela e o pistão Mahele mantêm-se igualmente, mas o resto é novo, começando pelo cilindro de 4 janelas de transferência mais duas auxiliares rasgadas a partir da janela de admissão.

Este aumento de àrea foi compensado com uma diminuição na altura das referidas janelas de transferência e escape ( reduzindo assim os diagramas de distribuição) por forma a incrementar o binário nos baixos e médios regimes.

A admissão efectua-se a partir de um carburador Mikuni 21 ( difusor de 20mm) sendo controlada por lamelas tal como sucedia já na última versão do motor M105. Contudo no novo cilindro foram colocadas novas condutas directas ao carter beneficiando sobremaneira a regularidade da carburação. Esta modificação permite ainda o aumento de 0,5cv ao nível da potência máxima ( 8cv contra os 7,5 anteriores) ao mesmo regime de rotação ( 8500rpm) e uma curva de potência surpreendente numa 50cc, começando logo às 2000rpm com a disponibilização de 2,5cv. Também o novo escape, construído na Casal, contribui para este resultado e embora perca para os rivais italianos no capítulo estético, ganha em nível sonoro, revelando um baixo índice de ruído mesmo em regimes elevados.

O sistema de refrigeração foi redimensionado para o novo grupo termodinâmico. A refrigeração liquida com bomba de circulação mecânica continua a dar boa conta de si, como provaram os muitos quilómetros que efectuámos num dia de verão bastante quente sem que se registasse qualquer aquecimento exagerado.

A ausência de um sistema de lubrificação separada é notada, não só porque tornaria os abastecimentos mais faceis como evitaria a mistura de diferentes tipos de óleo.

Se o motor é comparável ao que de melhor se produz nesta classe ( salvo ausência de lubrificação separada), a parte ciclística acompanha perfeitamente esta tendência. Os  técnicos da Casal recorreram a um quadro de dupla trave em chapa de aço prensada cuja rigidez permite a instalação sem problemas de motores com mais do dobro da potência, sendo notório o seu bom acabamento.

A suspensão é garantida por uma forquilha telehidraulica Marzocchi ( dotada de sistema " anti dive" regulável) à frente e de um mono-amortecedor hidropneumático atrás. As rodas são de 16 e 17 respectivamente à frente e atrás, utilizando aros e jantes em alumínio construídas na Metalurgia Casal, equipadas com pneus 2,75 e 3,00.

Os travões, de disco à frente (pinças e bomba Grimeca) e tambor de dupla came atrás, dispõe de um sistema anti- autobloqueio que tem por objectivo evitar o bloqueio acidental da roda traseira nas travagens mais fortes.

 

As primeiras Magnum na linha de montagem.

 

Evolução:

 

Também nos acabamentos são notáveis algumas diferenças relativamente a anteriores produções. A chave utilizada para a ignição é a mesma que serve para o depósito de combustível. Este é metálico e tem uma capacidade de 14 litros o que, dado o baixo consumo deste modelo, possibilita uma grande autonomia. As tampas laterais são construídas em fibra de vidro e encaixam perfeitamente, apresentando um nível de acabamento pouco usual.

O banco é amplo e confortável, permitindo um bom nível de comodidade mesmo em trajectos longos; os punhos e manetes dão da Domino ( idênticas aos das Aprilia) e estão montados em avanços independentes reguláveis, enquanto  o painel de instrumentos, de desenho agradável, de facil leitura, é constituído por conta- rotações electrónico, velocímetro, conta-quilómetros e indicador de temperatura de àgua.

 

 

Forquilha Marzocchi e pinças de travão Grimeca.

 

Em movimento

 

A posição de condução é tipicamente desportiva, com os pés colocados em posição recuada e o tronco ligeiramente inclinado para a frente. À primeira tentativa o motor entra em funcionamento, com uma sonoridade invulgar, não incomodativa.

A embraiagem é de facil accionamento e a caixa de velocidades- não sendo particularmente macia é precisa.

As vibrações são escassas, quer nos poisa-pés, quer nos comandos, o que se deve ao bom equilibrio do motor e à fixação deste no quadro através de apoios de borracha.

No arranque, a elasticidade do novo grupo termodinâmico faz-se notar revelando algum vigor, apesar dos 89kg de peso a seco, factor que, ajudado pela suavidade da embraiagem e pela precisão, permite uma condução perfeitamente tranquila em cidade sem que seja necessário levar o motor a regimes de cinco digitos. Não obstante esta elasticidade é a partir das 6000rpm que o motor revela outra "vida", começando a libertar toda a sua força, para só se deter cerca das 10500 rpm, momento em que se verifica uma certa barreira, característica dos motores de lamelas.

 

 

Ciclistica de bom nível.

 

Quadro sólido.

 

A parte ciclistica corresponde perfeitamente estando até sobredimensionada para as possibilidades deste motor. O quadro transmite uma sensação de grande solidez e permite uma boa sensibilidade ao trabalho das suspensões, orgão mecânico que acompanha em eficácia todo o conjunto. Atrás, o monoamortecedor denota uma boa capacidade de absorção, mantendo a roda "colada" ao chão se o piso não apresentar irregularidades. Quando estas surgem nota-se algum desconforto, revelando uma ligeira tendência para a roda "saltitar".

Talvez um sistema de balancins pudesse tornar a suspensão traseira mais versátil permitindo-lhe uma maior adaptação às variações de peso do condutor( e eventualmente do passageiro) e aos diversos tipos de piso, mas isso implicaria um significativo aumento do preço final da moto, algo que foi levado em grande consideração.

Na dianteira, a forquilha Marzocchi absorve qualquer irregularidade proporcionando um conforto apreciável, pois o sistema anti-mergulho permite regulações bastante macias sem que se verifique um afundamento exagerado nas travagens mais bruscas. É nesta situação que a forquilha mais se distaca, não revelando qualquer tendência para torcer, em parte devido à ponte de reforço adoptada sobre a roda e, ao mesmo tempo, permitindo um pequeno afundamento para evitar uma maior variação do ângulo de caster e suficiente para que exista o máximo de sensibilidade na aderência do trem dianteiro.

A nível de travagem o disco dianteiro com pinça Grimeca de simples pistão, tem potência e progressividade em doses mais do que suficientes para garantir a eficácia, sendo o tambor traseiro igualmente progressivo, revelando uma sensibilidade invulgar pelo facto da capacidade de travagem ser proporcional à força enpregue no pedal ( devido ao sistema anti- bloqueio).

Em termos de comportamento, o conjunto é muito homogéneo, e o seu elevado peso a seco quase não se faz sentir devido à elasticidade do motor, o que aliado à boa ciclistica permite uma condução bastante agradável em todas as situações. A frente é perfeitamente neutra devido a uma geometria muito bem estudada, não existindo qualquer tendência para "cair" dentro da curva ( comportamento típico das rodas de 16" ), ou para abrir as trajectórias. A traseira responde aceitavelmente, não flectindo excessivamente mesmo nas acelerações mais bruscas, nem deixando a roda saltitar nas travagens a fundo. O quadro suporta tudo isto, deixando entender que se a legislação portuguesa o vier a permitir, pode perfeitamente receber um motor de 80cc.

A nova Casal Magnum é um modelo de facil condução. Em diferentes condições de piso e tráfego, a Magnum revelou-se sempre à altura e proporcionou-nos uma condução até bastante divertida. O que lhe falta no capítulo técnico comparativamente às japonesas ( disco de travão traseiro, "power valve") é largamente compensado pelo preço, pois permite poupar quase metade do dinheiro que actualmente uma italiana de topo exige, e a diferença, quer em Engenharia, quer em qualidade não é tão acentuada quanto isso. É provavelmente a melhor produção alguma vez saída da fábrica de Aveiro.

 

Escape optimizado construído na Metalurgia

 
Ficha Técnica
Motor
Tipo - Monocilíndrico a 2 tempos  com refrigeração liquida
Cilindrada - 49,9cc 
Taxa de compressão - 8,5:1
Alimentação - Carburador  Mikuni, 20mm
Lubrificação - Por mistura directa
Potência max. Dec. : 8cv às 8500rpm
Caixa : seis velocidades
Embraiagem - Multidisco em banho de óleo
Arranque: Eléctrico / pedais
Ciclística
Quadro : Dupla trave em aço
Suspensão dianteira: Forquilha tele-hidráulica com anti-dive.
Suspensão TraseiraMonoamortecedor .
Travão dianteiro: Disco de 220mm com pinça de simpes pistão
Travão traseiro: Tambor de 140mm
Dimensões 
Largura : 660mm
Altura : 1110mm
Distância entre eixos:  1260mm
Peso a seco: 89kg
Consumo anúnciado: 3,9lt aos 100km