Casal RZ 50 Robusta e económica |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto é da responsabilidade de Mário Figueiras e as fotos de Vitor Sousa O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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Em Agosto de 1984, a Motojornal apresentou um teste à Casal RZ50, máquina que naquela altura constituia uma opção válida em termos de indústria nacional. De qualquer maneira foram apontados alguns pormenores que necessitavam de alteração por forma a proporcionar ao futuro utilizador um produto com uma qualidade minimamente equivalente ao que de melhor se faz por essa europa fora. Surgiu agora oportunidade de constatar na prática todas as alterações que a Metalurgia Casal entendeu por bem introduzir. Pena que não tenham sido aceites algumas das sugestões feitas na altura.
Com a nossa entrada para a C.E.E. muitos dos modelos que até aqui não podiam entrar pelas nossas fronteiras, devido a um proteccionismo, quanto a nós fundamentado, que visava acima de tudo impedir a entrada de motos de 50cc, o grosso da produção nacional, invadem agora o nosso mercado. Desta maneira os fabricantes portugueses não temiam a concorrência estrangeira e lançavam modelos de pouca ou nenhuma evolução tecnológica, introduzindo componentes de muito má qualidade com o objectivo de tentar reduzir os custos de produção. Em contrapartida, as performances eram cada vez maiores e assistiamos a uma guerra entre os diversos construtores tendente a apresentar ciclomotores cada vez mais rápidos, sem que, tanto quadros como suspensões e mesmo travões acompanhassem esta escalada de performances. Ninguém podia esperar que um dos fabricantes se detivesse um pouco para pensar e chegasse à conclusão que estava a seguir pelo caminho errado, reduzindo as performances dos modelos e entregando de bandeja a sua quota no mercado para os seus mais directos concorrentes. Depois desta breve introdução passemos então à descrição mais pormenorizada da Casal RZ 50.
Estética/ Acabamentos
A estética desta Casal não pode ser considerada muito desactualizada, correspondendo a algumas das mais recentes tendências do "design". O enquadramento entre o conjunto composto pelo depósito, protecção do radiador e tampas laterais revela algum cuidado na sua criação, podendo, no entanto, o depósito ser mais envolvente, de modo a possibilitar uma melhor acomodação por parte das pernas do condutor. As jantes apresentam um desenho bonito e a côr em que estão pintadas favorece bastante a harmonia de todo o conjunto. Por outro lado, o motor também tem boa apresentação, pena é que o escape não acompanhe a sua linha moderna. Na traseira sobressai uma imponente pega para o pendura que se mostra bastante útil em diversas situações. O farol traseiro está bem enquadrado no conjunto.
Os piscas estão bem dimensionados sendo os seus suportes algo desproporcionados, especialmente na frente. Para quando suportes de piscas flexíveis? Os comandos são de qualidade díscutivel e quanto a nós, os comutadores de mudança de direcção poderiam apresentar um accionamento mais prático. O painel de instrumentos compreende apenas um velocímetro. Ao centro encontra-se a fechadura da ignição que continua a ser comandada por uma chave rudimentar. Infelizmente não é só na Casal que isto acontece. Por baixo da ignição encontram-se as luzes avisadoras de mudança de direcção e de máximos que cumprem plenamente a sua função.
A traseira demonstra algum cuidado na sua concepção, notando-se um bom enquadramento entre o farol, a sua cobertura e os piscas.
Resta ainda acrescentar que durante o nosso teste todo o sistema de iluminação se mostrou bastante fiável, ao contrário do que normalmente sucede com outros modelos nacionais. Este é um factor de grande importância na prevenção de acidentes, pois como todos sabemos, grande parte dos ciclomotores que circulam pelas nossas estradas não possuem qualquer tipo de iluminação e compreende-se até certo ponto a posição dos possuidores destes veículos que não podem gastar uma fortuna em lâmpadas que se fundem imediatamente a seguir à sua montagem.
Motor
Este será provavelmente o aspecto mais positivo em todo o conjunto pois as suas qualidades fazem comque esta moto possua umas performances bastante interessantes. Este é um dos pontos fortes da nossaprodução de ciclomotores e não são raros os casos onde estes atingem velocidades superiores a 100km/h. O motor é um comum monocilindrico a dois tempos com refrigeração liquida, admissão controlada pelo pistão e caixa de seis velocidades. Cabe aqui fazer uma especial referência ao facto de a refrigeração se processar por meio de um sistema de termo-sifão, solução algo desactualizada e que poderia ser alterada. Ainda por cima sabemos que na Casal existem motores idênticos a este com refrigeração forçada por bomba, muito mais eficiente em todos os aspectos e que não apresenta uma sofisticação tecnológica tão elevada que não possa ser encarada de maneira mais realista pelos nossos fabricantes.
O motor é um dos pontos fortes deste ciclomotor, muito robusto e económico, com umas performances excelentes, tendo em conta a sua cilindrada.
Outro ponto que gostariamos de ver revisto relaciona-se com o facto de a admissão ser controlada pelo pistão e não por lamelas, solução bastante mais eficiente em termos de economia e ruido. Parece-nos também que o motor deveria ter sido alvo de um maior equilibrio interno por forma a evitar determinadas vibrações. A sua faixa de utilização pode ser considerada normal, se tivermos em conta que estamos em presença de um convencional dois tempos, onde a potência só aparece lá em cima, obrigando assim a frequentes passagens de caixa. Já que falamos em caixa de velocidades, convirá dizer que o seu escalonamento nos pareceu bastante correcto, excepto a primeira velocidade que consideramos bastante comprida, obrigando por isso a que sejamos obrigados a elevar muito o regime de rotação do motor para arrancar, especialmente se transportarmos passageiro ou se arrancarmos numa subida. De qualquer maneira não nos podemos esquecer que estamos em presença de uma 50cc pelo que o funcionamento geral do motor poderá ser considerado como positivo. A embraiagem pareceu-nos bastante robusta pois mostrou sempre boa capacidade de resposta, mesmo nas situações mais duras. Quanto à robustez geral do motor podemos dizer que ficamos bem impressionados pois não ligamos muito ao período de rodagem e este foi sempre incisivo nas suas respostas, nunca mostrando sinais de fadiga, ou mesmo de uma eventual gripadela. Para isto terá contribuido o facto de termos óleo de boa qualidade na mistura, situação que muitas vezes não se verifica nas convencionais estações de abastecimento de combustível. Durante o nosso teste usamos óleo sintético na proporção de 1:100 e podemos verificar que a lubrificação se efectuava perfeitamente, ao mesmo tempo que a emissão de gases pelo escape estava muito diminuída.
O travão dianteiro ( disco de 220mm de diâmetro) apresenta um funcionamento eficiente, com uma actuação bastante progressiva.
Ciclistica / Comportamento geral.
O quadro, realizado em tubos de aço de secção redonda, apresenta uma rigidez bastante aceitável, permitindo curvar com alguma segurança. As suspensões são um pouco duras de modo que se torna desconfortável circular por estradas com mau piso, que, como todos sabemos, são "raras" em Portugal. Na traseira encontramos um sistema de dois amortecedores hidráulicos, solução clássica que urge ser revista. Por seu lado, a forquilha dianteira apresenta pouca capacidade para absorver com segurança as irregularidades do piso. No entanto, devido à sua dureza, obriga aque a moto permaneça bastante equilibrada uma vez que o afundamento da dianteira é quase nulo. Os travões que equipam este veículo cumprem com eficácia a sua obrigação, pese embora o facto de o conjunto dianteiro ( disco de 220mm de diâmetro e pinça de simples pistão) não apresentar a potência que seria desejável, mostrando-se embora muito progressivo. Os pneus não são os ideais obrigando à utilização de pressões muito elevadas por forma a evitar que se "dobrem" ao descrever cada curva.
Conclusão
Não pretendiamos fazer um levantamento exaustivo de todos os defeitos que a Casal RZ 50 possa possuir, sabendo ainda por cima que não existem motos perfeitas. No entanto, não queriamos deixar passar esta oportunidade para fazer o alerta em relação a certos pormenores que quanto a nós urgem em ser alterados se queremos que a nossa indústria de ciclomotores não morra. Assim, gostariamos que os responsáveis pela Metalurgia Casal não tomassem estas criticas como destrutivas e que tentassem aproveitar algumas das nossas opiniões para criar um produto de qualidade que nada ficasse a dever ao que de melhor se faz por esse mundo fora. Poderemos mesmo apontar grandes qualidades que continuam a ser apreciadas por um numeroso e importante segmento da nossa população. A sua economia, tanto na aquisição como na manutenção são argumentos de peso para que qualquer pessoa com poucas disponibilidades financeiras opte pela sua aquisição e podemos mesmo afirmar que a Casal RZ 50, juntamente com todos os outros ciclomotores de produção nacional, representa um papel fundamental na economia do país pois o número de pessoas que por esse Portugal fora se deslocam para os seus empregos, ou que utilizam directamente este meio de transporte para trabalhar, é de tal maneira elevado que seria quase catastrófico deixar que a sua produção terminasse. Há que apoiar os contrutores nacionais e nesse sentido Motojornal tentou, com este pequeno teste, fazer o alerta para que determinadas situações sejam ultrapassadas pela via da qualidade.
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