Eureka! |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motociclismo dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Paulo Costa e as fotos de Gabriel Penedo. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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A Famel pode gritar: Achei! [eureka], tal como Arquimedes o pronunciou quando descobriu a lei do peso específico dos corpos. Desta feita, a descoberta está relacionada com a constante procura de energias alternativas. A indústria nacional acaba de desenvolver uma scooter movida a... electricidade!
Famel Faxion electric, a scooter electrica
Numa altura em que países ditos super-desenvolvidos, com todo o seu potencial tecnológico, concorrem à descoberta de energias alternativas, na mesma altura em que assistimos a uma verdadeira luta pelas insígnias "verdes", entre os mesmos países, promovendo tudo o que seja ecológico e descriminando o que o não seja, como se de produtos "pretos", (caso de petróleo e carvão) se falasse. Aparece agora uma tal de Famel, com sede num tal país fronteiro à famosa Espanha, a da Expo de Sevilha, a desenvolver o que tantos buscam e tão poucos alcançam: o caminho das energias alternativas. A descoberta é tão simples quanto isto, um veículo de duas rodas, exteriormente igual às nossas conhecidas scooters, tendo como única diferença a sua fonte de energia. Em vez do convencional e poluidor motor monocilíndrico a dois tempos, foi adoptado um motor eléctrico com uma potência de 4,7cv.
O feito é demasiado importante para que fique no anonimato. Foi dado um passo de gigante rumo ao futuro. É essencial que haja um forte apoio da parte do Ministério da tutela, de modo a que não venha determinado país de "olhos em bico" e compre a patente da invenção, por manifesta falta de capacidade para desenvolvermos o projecto. Quanto a esta questão, o futuro o dirá, sendo, no entanto, correcto dizer que o motor eléctrico poderá ser uma solução de futuro para obviar o problema do enquinamento atmosférico nas grandes cidades. A Europa, assim como a América, já espreitam esta invenção. Por todo o "velho continente" circulam já cerca de 40 Electric- Famel Faxion, as encomendas não param. Sendo muito pretendida para equipar a polícia da Riviera Francesa.
Traseira de acordo com o padrão nas scooters
Silenciosa
Para os mais distraídos, numa apreciação sumária, a Electric - Famel é uma scooter como outra qualquer. As suas linhas são modernas, com um "design" sedutor. Mas o que parecia uma scooter convencional cedo deixa de o ser. Ao accionarmos o "starter", uma luz verde surge no painel de instrumentos indicando que a sccoter se encontra pronta para arrancar. Do motor nem um pequeno ruído. O mais profundo dos silêncios. O trabalhar barulhento dos vários veículos que circulam nas cidades, faz já parte do nosso dia-a-dia, sendo um dos grandes defeitos apontados às duas rodas. A Electric- Famel não se faz ouvir, é estranho vermos uma scooter em pleno movimento sem problduzir qualquer tipo de ruído. Os ambientalistas podem ficar descansados, a agressão ambiental fica resolvida com este veículo. A poluição sonora e atmosférica deixa de ser problema, por se tratar de um motor eléctrico, não emite qualquer fumo, de componentes tóxicos tão prejudiciais à saúde e devastadores do pouco ozono que nos resta.
A Electric Faxion passa perfeitamente por uma scooter convencional a dois tempos.
Relativamente à ausência de barulho, enquanto testamos este modelo, tivemos alguns sobressaltos com os transeuntes, habituados a atravessar as ruas servindo-se mais da audição do que propriamente da visão, vimo-nos forçados a recorrer ao único elemento sonoro disponível (leia-se buzina), por diversas vezes. É uma questão de adaptação, que será resolvida quando circularem mais veículos deste tipo. Outra das características que nos leva a diferenciar das restantes scooters é o facto desta não possuir, logicamente, qualquer tubo de escape. Por baixo a plataforma esconde-se uma espécie de caixa negra rectangular, que alberga o "pack" de baterias, responsável pela alimentação do motor eléctrico de corrente contínua.
O segredo
Mas como funciona esta inovação? O motor, já ficou referido, é electrico com uma potência de 3.5kw, alimentado por um conjunto de baterias. O grupo energético tem como principais funções: "choper" electrónico (com uma voltagem nominal de 36v), conversor DC-DC, controle e funções de segurança. O grupo encontra-se resguardado contra o manuseamento e infiltrações de água. Para pôr todo este aparato em funcionamento, basta ligar uma convencional ficha eléctrica do carregador ultra rápido (que se encontra sob o assento) a uma simples tomada de 220V, durante cerca de duas horas, para se obter uma carga de 100%. Esta carga está prevista para uma utilização média de 45 quilómetros. Caso seja necessário, pode efectuar-se uma carga rápida de 10 minutos, suficientes para percorrer cerca de mais 15 a 20km. O único inconveniente deste sistema, é ter de existir uma tomada por perto, sempre que seja necessário "atestar o depósito". A grande vantagem reflete-se na economia que isso representa. O consumo equivalente é de 3kw/hora, o que corresponde a de 0,3L de combustível por 100km percorridos. Acabam-se as frequentes idas aos postos de abastecimento, fatais às carteiras dos condutores. Se ao nível da motorização já vimos nada ter que ver com as convencionais scooters, em termos de prestações fica muito próximo das suas "primas".
Curioso o formato redondo dos comandos. Sobre o punho esquerdo encontram-se os indicadores de direcção e comutadores de máximos.
No direito, botão de arranque e interruptor de iluminação
O painel muito semelhante ao das restantes scooters, sendo substituído o indicador de combustível por um outro da carga das baterias.
Porta-luvas suficientemente amplo para permitir o transporte de pequenos objectos, tipo carteira, luvas ou livros.
Extremamente ágil
Ao avaliarmos a Famel, sabíamos que estavamos a experimentar um veículo, em que o seu ponto forte não tinha de incidir necessariamente nas suas capacidades, relativamente a outras scooters por nós experimentadas. O que estava em causa e era importante avaliar, eram as potencialidades de um motor alternativo. A sua viabilidade, no fundo. Ficámos positivamente impressionados, a Famel revelou-se muito ágil e principalmente muito estável dada a baixa posição do centro de gravidade. Porém, o posicionamento do "pack" de baterias por baixo da plataforma, deixa uma reduzida distância ao solo, chegando a bater no chão, quando a curva se apresenta mais apertada. Os técnicos da Famel estão a estudar um sistema que visa condensar aquele bloco, reduzindo o seu tamanho. O poder de arranque está ao nível de qualquer scooter convencional. A velocidade máxima não excedeu os 55km/h, foi-nos referido que estes valores podem ser superiores, mas em detrimento da autonomia, uma vez que aumentaria o consumo. Julgamos, neste momento de iniciação, não ser muito importante se a electric - Famel tem menos 10 ou 15km/h de velocidade máxima. O que é relevante é o facto de os 55km/h serem alcançados por um motor eléctrico!
Grelha metálica para transporte de volumes e pegas que possibilitam o apoio do passageiro.
Por baixo do banco encontram-se o pack de baterias e a indispensável ficha que assegura a recarga da energia motriz
Travão dianteiro em tambor, um dos pontos a rever pelos técnicos da Famel
Em vez do tradicional escape encontramos apenas o motor colocado sobre o eixo traseiro.
Quanto à capacidade de travagem, temos visto melhores prestações, mas devemos ter em conta que o equipamento utilizado são os normais travões de tambor. A suspensão cumpre, sem brilhar. Em termos de equipamento, a Electric tem um nível apreciável, não faltando o porta - luvas. No painel de instrumentos existe um indicador que marca a quantidade de energia á disposição do condutor. No modelo por nós experimentado, este indicador mostrou-se ineficaz, marcava 2/3 de energia quando na realidade não a tinha. Um pormenor importante passível de revisão. O transporte do passageiro é feito sem grande dificuldade, dispondo este de duas pegas laterais e uma traseira, assim como uns poisa-pés generosos. A Famel vem ainda provida de uma grelha traseira apta para pequenas bagagens. Na realidade, estamos perante uma scooter que não fica nada a dever ás suas rivais. O valor de comercialização, assim que estiver homologada para o nosso país, deverá rondar os 450 mil escudos. Elevado para uma scooter, mas se analisarmos na óptica do investimento, concluimos que dada a sua economia energética, findos 18 meses de utilização houve uma total recuperação do investimento inicial. Portugal pode-se orgulhar, o futuro também passa por este "cantinho".
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