Fundador MRE 50- A evolução possível

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto é da responsabilidade de Mário Figueiras  e as fotos de Jorge Morgado.

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Apesar de o nosso mercado estar cada vez mais a ser invadido por ciclomotores de origem estrangeira, algumas fábricas nacionais têm conseguido manter uma imagem bastante competitiva, conseguindo aliar a tradicional robustez e baixo custo das suas produções, a algumas inovações tecnológicas e estéticas que têm permitido a sobrevivência de uma indústria que muitos consideravam em vias de extinção.

 

Quando ouvimos uma referência a Sangalhos, logo associamos esta palavra à produção de excelentes vinhos espumantes e ao ciclismo.

Para além destas actividades, a produção de ciclomotores também tem contribuido para a promoção desta bela região, nomeadamente através da Fundador.

Como é natural, esta unidade industrial tem atravessado diversas fases ao longo da sua existência. No entanto, a produção de veículos equipados com motores originários da Casal tem sido uma constante ao longo dos anos.

Por outro lado, os modelos de todo-o-terreno têm desempenhado um papel fundamental na criação e consequente manutenção de uma imagem de marca identificavel com um público jovem e agressivo.

Certamente muitos recordam o sucesso que um dos primeiros modelos trail, equipado com motor Casal de seis velocidades e refrigerado por ar, obteve junto das camadas mais jovens da nossa população.

Depois apareceu uma máquina mais evoluída, equipada com um motor de refrigeração liquida e um sistema monoamortecedor na suspensão traseira. Esta ultima foi alvo de um teste na Motojornal nº29 ( Julho de 1986), trabalho este que servirá de base para uma comparação com o que foi recentemente realizado.

 

Estética.

 

Em relação ao modelo anterior nota-se uma interessante evolução estética, nomeadamente no que se refere à introdução de alguns acessórios que melhoraram substancialmente o aspecto da MRE 50.

Começando pela traseira, será de destacar a introdução de um novo guarda-lamas, de desenho muito mais actual e certamente muito mais adaptado às actuais exigências do mercado.

 

Na generalidade, a Fundador MRE 50 apresentou um comportamento bastante positivo, especialmente no que se refere ao conjunto quadro-suspensões-travões.

 

De referir ainda que foi introduzida uma útil grelha porta-bagagens, grelha esta que serve de suporte para para os, também novos, "pisca-pisca".

Um pouco à frente, será de notar a introdução de tampas laterais muito bem integradas na linha do depósito. Este último não sofreu grandes alterações na sua forma, o mesmo não se passando com os deflectores de ar para o radiador, elementos que apresentam agora uma forma e dimensões muito mais de acordo com a linha geral da máquina.

 

Quanto ao seu desenho, pensamos que alguns pormenores, como o assento e o depósito de combustível, poderiam ser melhorados.

 

Na frente, o destaque vai para a nova carenagem de farol e para a protecção do travão de disco, sem dúvida dois elementos que contribuem decisivamente para que esta Fundador seja bastante agradável em termos estéticos.

De Futuro, pensamos que o desenho do assento poderia ser um pouco melhorado.

De referir ainda o belo efeito proporcionado pelo contraste entre o dourado dos aros, braço oscilante, bengalas da forquilha dianteira e ponteira de escape e todo o restante conjunto.

 

 

Acabamentos.

 

Quanto ao primeiro aspecto, pensamos que, de um modo geral, esta máquina apresenta uma qualidade bastante aceitável, notando-se uma preocupação por parte do contrutor em dotar a MRE com soldaduras e pintura de bom nível. No entanto, alguns pormenores necessitam ainda de pequenas alterações por forma a proporcionar a esta máquina uma imagem ainda mais competitiva.

Assim, gostariamos de referir o facto de a fechadura de ignição ainda pertencer à antiga geração das "universais" que podem ser accionadas por qualquer chave pertencente a qualquer outro ciclomotor de produção nacional.

Todos sabemos que Portugal é um país de brandos costumes e que nas localidades da província este pormenor não levanta problemas de maior. No entanto, nos grandes centros populacionais, os furtos sucedem-se com muito mais frequência de forma que qualquer proprietário de um veículo com estas características tem interesse em possuir uma fechadura que previna este tipo de situações indesejáveis.

Felizmente, fomos informados que esta situação seria alterada num futuro próximo pois já existe um produtor nacional que iniciou a fabricação destes elementos o que certamente virá viabilizar económicamente a introdução deste elemento, face a uma importação iminente.

 

A ponteira de escape é construída em alumínio e apresenta uma bela pintura dourada. Para evitar que os resíduos de óleo depositem no guarda-lamas foi adaptado um pequeno tubo na saída da referida ponteira.

 

Quanto aos comandos, será de realçar o seu desenho moderno, enquanto que no capítulo da funcionalidade já não poderemos fazer uma critica positiva, especialmente no que se refere ao comutador dos indicadores de mudança de direcção (pisca- pisca). Este acessório apresenta um accionamento vertical, sendo para isso necessário interiorizar o seu funcionamento. Na realidade não é nada prático pensar se devemos premir a parte superior ou inferior deste comando antes de uma qualquer mudança de direcção. Este tipo de acção deve ser o mais breve e automática possivel para evitar que a concentração sobre a condução seja minimamente comprometida, situação que este tipo de comando não parece defender.

 

Painel de instrumentos um pouco pobre, caracterizado por uma fechadura de ignição a pedir imediata substituição.

 

Outro aspecto que gostariamos de referir tem a ver com  a fidelidade do conta- quilómetros, instrumento que nesta máquina mostrou uma aferição muito realista e pouco oscilatória, ao contrário de outros instrumentos semelhantes, anteriormente montados em máquinas nacionais, que mais pareciam medidores de vibrações do que propriamente medidores de velocidade.

 

Na vista traseira e dianteira podemos ver, respectivamente, os novos guarda-lamas e carenagem de farol, dois elementos que contribuiram decisivamente para actualizar a linha desta máquina.

 

Motor.

 

Como já foi afirmado, a Fundador assenta a sua produção nos motores Casal, marca portuguesa que dispensa grandes apresentações.

A MRE 50 vem equipada com um monocilindrico a dois tempos refrigerado por liquido.

No entanto, este sistema de arrefecimento não recorre a uma bomba para forçar a circulação do liquido refrigerante, ao contrário da grande maioria dos seus competidores. Com efeito, este motor Casal baseia o seu sistema de arrefecimento no principio do termo-cifão, onde a circulação da àgua se faz através da diferença de densidades originada pelas diferentes temperaturas geradas no bloco do motor e no radiador.

 

 

Em teoria, este sistema parece resultar só que na prática nota-se um importante desequilibrio térmico que virá influenciar negativamente o rendimento do motor. Segundo foi afirmado pelos responsáveis da  Fundador, a Metalurgia Casal tem já em desenvolvimento um motor com bomba de àgua de forma que só nos resta esperar mais algum tempo para que esta situação se altere.

Outro aspecto que nos parece passivel de uma melhoria é o da lubrificação. Neste motor continua a ser utilizado o ultrapassado sistema de mistura prévia no depósito de combustível.

 

 

As desvantagens que este sistema apresenta são imensas, nomeadamente no que se refere à relação entre a quantidade fornecida de lubrificante e as respectivas necessidades do motor. Neste caso, o débito de lubrificante é constante, facto que contribui decisivamente para o aumento da emissão de gases poluentes bem assim como para uma diminuição no rendimento do motor já que uma quantidade excessiva de óleo origina indesejáveis resíduos de carvão.

Para além disso, a qualidade dos lubrificantes que normalmente se encontram nos postos de abastecimento de combustível é um pouco duvidosa pelo que a utilização de um sistema automático de lubrificação nos parece ser de extrema importância.

 

 
Gostamos N/ gostamos
Estética X  
Motor X  
Suspensão diant.   X
Suspensão tras. X  
Travão diant. X  
Travão. Tras. X  
Comandos X  
Acabamentos. X  

 

 

 

 

 

 

Quanto à utilização prática deste motor, o ponto que mais nos marcou foi o da falta de potência em baixos e médios regimes. É certo que estamos perante uma unidade de 50cc e que normalmente este tipo de propulsores não consegue uma boa prestação a baixa rotação. De qualquer maneira, este motor Casal mostra um certo exagero neste aspecto e a ele certamente não será alheia a ausência de lamelas na admissão. Quando esta fase menos positiva é ultrapassada, surge uma verdadeira explosão de potência, notando-se uma grande facilidade de funcionamento nos regimes mais elevados. O carácter deste motor faz lembrar o de um verdadeiro dois tempos de competição.

Se a este carácter adicionarmos uma caixa de velocidades muito bem escalonada, obtemos um conjunto bastante rápido, desde que a pequena faixa de potência seja totalmente aproveitada.

Outro pormenor que nos deixou uma impressão positiva foi o do baixo nível vibratório produzido por este motor.

 

Com a introdução de um disco na dianteira,  a Fundador MRE 50 ganhou uma estética mais agressiva e actual, para além de ter melhorado o poder de travagem. A forquilha dianteira é uma Marzocchi com 192mm de curso que mostrou um funcionamento muito bom.

 

Ciclistica.

 

Neste aspecto e em relação à versão anterior gostariamos de referir a introdução de um travão de disco na dianteira, bem assim como de uma forquilha telescópica Marzocchi, em substituição da antiga Betor.

A Fundador MRE 50 está equipada com um bom conjunto de suspensões, qualidade que vem proporcionar uma excelente estabilidade em qualquer tipo de piso.

Quanto à travagem, também teremos de fazer uma análise positiva pois tanto o disco dianteiro como o tambor traseiro mostraram uma boa capacidade de desaceleração.

Quanto ao primeiro, agradou-nos a sua progressividade, sendo no entanto de referir que poderia ser um pouco mais potente.

Um facto que nos deixou muito bem impressionados tem a ver com a utilização de pneus Pirelli de excelente qualidade, mais um factor decisivo para a excelente estabilidade desta máquina.

 

 

 

 

 

Nestas duas fotos podemos apreciar a evolução estética que o modelo, agora testado, sofreu em relação à anterior versão.

 

 
Ficha Técnica
 
Motor
 
Tipo - Monocilíndrico a  2 tempos com refrigeração por liquido
Admissão- Controlada pelo pistão
Cilindrada - 49,9cc 
Diametro X Curso - 40 X 39,7mm
Taxa de compressão -  8,5:1
Carburador- Bing 1/19
Arranque- Por pedal
Lubrificação - Mistura no depósito de combustível
Ignição- Electronica
 
Transmissão
 
Primária - por engrenagens 
Embraiagem- multidisco em banho de óleo
Caixa- 6 velocidades
Final - Por corrente
 
Montagem
 
Quadro - Duplo berço construido em tubos de aço de 
secção redonda
Suspensões
 Dianteira- Forquilha telescópica com bainhas de 32mm de
diâmetro e curso de 192mm
 Traseira- Sistema monoamortecedor de
acção progressiva regulável
Travões
 Dianteiro- Disco de 220mm de diâmetro servido por pinça
de simples pistão
 Traseiro- Tambor de 120mm de diâmetro
Pneus
 Dianteiro- 2.50 X 21
 Traseiro- 3.00 X 18
 
Dimensões 
 
Distância entre eixos-  1390mm
Comprimento máximo- 2150mm
Largura máxima- 860mm
Altura máxima- 1140mm
Altura do assento- 930mm
Peso- 85kg
Capacidade do depósito de combustível- 8L
 
Performances
 
Potência máxima- 7,3cv/ 8500rpm
Binário Máximo- 0.63 kgm/ 8500rpm
Consumo- 3L/ 60km/h