Macal RV6- Para gente nova.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto é da responsabilidade de Gabriel  Penedo e as fotos de Jorge Morgado.

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Fundada em Portugal por Manuel Caetano Henriques em 1921, a Macal evoluiu da fase embrionária com a montagem de motos SVM até à produção de modelos Trail de 50cc. A RV6 é a sua última aposta neste segmento de mercado.

Muito idêntica à sua antecessora, a Macal Trail II, a RV6 tem como principal diferença a decoração, agora mais chamativa e mais de acordo com as gentes novas.

 

 

Desde o seu inicio, com a montagem das SVM, a Macal passou por várias fases na sua história em que os motores Sachs, Zundapp e Casal de 3 e 4 velocidades dominaram durante anos os seus modelos.

Seguiu-se a fase dos motores Honda SS50, em meados da década de sessenta.

Poucos anos mais tarde a Macal deu os primeiros passos no Motocross. Mas o mundo da competição não lhes foi favorável nos primeiros tempos. As suas motos tinham alguma desvantagem em relação à concorrência. "Apesar de todo o nosso esforço", afirmou-nos Ernesto Caetano, responsável pela competição na Macal, "as Honda demonstravam  superioridade pelo que foi necessário recorrer à construção de um motor mais competitivo. Não tinhamos um modelo especifico para as provas de Motocross. Foi então que o Manuel Massadas, um dos nossos pilotos, pôs mãos à obra e fez um motor com admissão ao cárter que ainda hoje existe: o MR5"

Com este motor Manuel Massadas e Pedro Miranda conseguiram dar o título à Macal em 1975.

A partir daí o nome da Macal não foi esquecido e a empresa de pronto deu início à importação de motos de competição Husqvarna que foram então entregues a "pilotos de valor como José Torres de Sousa, António Tavares, Francisco Delgado e Miguel Silva".

Com João Gouveia a Macal arrecadou o título, mesmo antes de dar por finda a importação de modelos da marca europeia.

 

Aspecto das tampas laterais do motor que do lado direito protegem o radiador. Notem o novo jogo de cores.

 

Admissão ao carter.

 

Mas a Macal não vive apenas da competição. O motor idealizado por Massadas, com admissão ao cárter, foi inserido na produção dos modelos Macal sendo possível encontrar as soluções daquele "génio de Águeda" nas propostas de trail da marca nortenha. Ao mesmo tempo, atenta ao desenrolar dos acontecimentos e da nossa integração europeia, realizou cursos de formação profissional. "É evidente que houve uma grande mudança na Macal", continuava Ernesto Caetano. "Agora há mais vontade de trabalhar, a empresa é mais aberta e a qualidade do trabalho maior desde a produção até ao atendimento do cliente. Entraram bastantes pessoas novas, algumas filhos de operários que sempre trabalharam na Macal".

 

Travão de tambor de 150mm na roda traseira.

 

Vista de frente a RV6 permanece inalterável em relação à Trail II.

 

Hoje os modelos da Macal são desenvolvidos segundo um intercâmbio de informações entre a Macal em Portugal e a Minarelli em Itália, fomentada com a visita mutua de responsáveis de ambas as casas. Os produtos idealizados são posteriormente testados em Itália em bancos de ensaio. Pretende, assim, a Macal, apostar na qualidade. Não é de espantar uma vez que o mercado internacional tem procurado os seus modelos.

 

A grelha porta-bagagens da Trail II continua a figurar na RV6 permitindo o transporte de pequenos volumes.

 

A título de exemplo citemos a vizinha espanha para onde a Trail II é exportada. Quanto ao mercado nacional, parece satisfeito. "Não temos motos para entrega. Para nós, isso é bom sinal".

Em Março de 1988 a Motojornal publicava nas suas páginas o teste da mais recente produção da Macal. Tratava-se da Trail II, modelo destinado a uso misto asfalto/ terra. Foram então apresentadas duas versões uma delas com motor P6R e outro RV6, este ultimo com refrigeração líquida (água).

 

O painel de instrumentos possui apenas o essencial.

 

Escrevia então o hoje bi-campeão nacional de Enduro de 250cc, João Lopes, que a Trail II era uma prova de maturidade. Na realidade as linhas atraentes daquele modelo distavam bastante dos modelos de estrada que nalguns casos se podem considerar ultrapassados. Um desenho muito semelhante a modelos italianos resulta em linhas agradáveis e funcionais. A decoração sóbria ajuda ainda mais este modelo de 50cc.

 

Na frente um potente disco de 220mm permite travagens ousadas para uma 50cc.

 

Nova decoração

 

Ao fim de cerca de ano e meio a Trail II surge agora com nova decoração e designação. Passa a chamar-se RV6.

O modelo por nós contactado recentemente nas instalações da Macal em Águeda possuia como principais cores o branco e o vermelho do banco e bordo do guarda-lamas da frente. Em tom de roxo sobressaía o nome da marca na tampa lateral do motor e a decoração do que poderá ser um turbilhão de ar ou de folhas ( ou que quisermos.)

 

 

O efeito global salta de imediato à vista numa primeira impressão. Nada mais há a salientar. As luzes indicadoras de mudança de direcção dianteiras recuaram ligeiramente, para uma posição mais adequada em termos estéticos. A óptica permanece a mesma, bem como o guiador e painel de instrumentos que possui apenas o essencial.

O banco, confortável, permanece inalterável na sua sobreposição ao depósito de 8,5 litros.

Para além dos mesmos elementos plásticos e grelha de porta-bagagens da Trail II a RV6 possui a mesma ciclística com quadro de duplo berço em tubo de aço, suspensão dianteira por forquilha telehidraulica e traseira por monoamortecedor a gás e braço oscilante. O sistema de travagem mantém-se inalterado com um disco de 220mm na frente e tambor de 150mm atrás.

No breve contacto que estabelecemos com a Macal RV6 optámos pela condução no todo-o-terreno a fim de pôr à prova as capacidades deste modelo nacional. Salvo uma ou outra ocasião, em que necessitávamos de potência, nos tivémos de render aos 50cc da unidade motriz. De resto a suspensão permite uma condução confortável, sem querer com isto rivalizar com as produções japonesas, pelo que deixa antever conforto na estrada onde as irregularidades poderão ser mais frequentes. Os travões permitem parar a RV6 com segurança.

No computo geral gostariamos de realçar a facilidade de condução deste modelo cuja decoração poderá ir contra o gosto de algumas pessoas mas por certo agradará à faixa das gentes mais novas.

 

 
Ficha Técnica
Motor
Tipo - Monocilíndrico a  2 tempos com refrigeração liquida
Cilindrada - 49,6cc 
Diametro X Curso - 38,8 X 42mm
Taxa de compressão -  11,5:1
Ignição- Electrónica Ducati
Carburador- Dell Orto  PHBG 19 CS
Admissão- Por lamelas
Lubrificação - por Auto Lube
Transmissão
Primária - por engrenagens helicoidais
Embraiagem- multidisco em banho de óleo
Caixa- 6 velocidades
Final - Por corrente
Montagem
Quadro - Duplo berço em tubo de aço
Suspensão Dianteira- Forquilha telehidráulica
Suspensão Traseira- Monoamortecedor a gás
Travão Dianteiro- Disco de 220mm 
 Travão Traseiro- Cubo de aluminio de 150mm 
Roda Dianteira- Jante de 1,60/21 com pneu 2,75/21
Roda Traseira- Jante 1,85/18 com pneu 3,00/18
Dimensões 
Distância entre eixos-  1390mm
Largura- 830mm
Altura do assento- 900mm

 

Como referimos noutro local a unidade de potência da Macal é o conhecido  RV6 que dá  nome ao modelo.

Trata-se de um monocilindrico a dois tempos com curso de 38,8mm e diâmetro de 42mm, perfazendo 49,6cc. A mistura é realizada através de um carburador Dell Orto PHBG 19 CS e a admissão confiada a lamelas.

 

 

Funcionando à taxa de compressão de 11,5 para 1, esta unidade motriz desenvolve 7,35cv às 9000rpm sendo possível atingir a velocidade máxima de 74,5km/h.

A transmissão da potência é efectuada à roda traseira através da transmissão primária por engrenagens helicoidais, embraiagem de discos múltiplos em banho de óleo, caixa de seis velocidades e transmissão final por corrente.

 

 

Em relação à unidade de potência com refrigeração por ar ( também existe nesta versão), são de salientar como diferenças mais vibrações e ruidos de funcionamento para além da forma como a potência do motor pode ser utilizada e na dificuldade de subir de rotação. Sem dúvida que a unidade refrigerada por liquido responde melhor.

 

 

Em termos de montagem podemos adiantar que o quadro, um duplo berço em tubo de aço, continua inalterável. Na sua frente uma forquilha telehidráulica e na traseira, ligado ao braço oscilante, um monoamortecedor de funcionamento a gás.

Para os travões a Macal optou pelo disco de 220mm na frente e tambor de 150mm atrás sendo de salientar que no contacto de 88 este ultimo deixava de funcionar quando as incursões na terra obrigavam por passagens de cursos de água.

 

 

Os pneus, 2,75/21 na frente e 3,00/18 atrás, estão montados em jantes 1,60/21 e 1,85/18 respectivamente, com cubos de alumínio.

Com o peso,  a seco, de 88kg a Macal RV6, cujo depósito pode albergar 8,5 litros de combustível, mostrou-se fácil de conduzir e se tivermos em conta o consumo efectuado no anterior contacto ( 4 litros aos 100km/h) chegamos à conclusão que, em viagem, o motociclista dispôe de autonomia para cerca de duzentos quilometros.