A grande aposta |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 90. O texto é da responsabilidade de F. Pedrinho Martins e as fotos de Photo Course. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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Numa recente visita à SIS, na Anadia, tivémos oportunidade de contactar com os três mais recentes modelos deste construtor nacional. A necessidade de actualização dos seus produtos levou à introdução de novas motorizações, em que a refrigeração líquida é a grande novidade, destacando-se o acordo celebrado com a Cagiva para fornecimento de uma unidade de 50cc, idêntica à que equipa a Cocis.
Diva é a grande aposta da SIS no relançamento da sua produção.
A S.I.S é um dos mais importantes construtores nacionais e de maiores tradições no nosso país. Recorrendo a motorizações originárias da marca Alemã Fichtel & Sachs, um colosso alemão que produz todo o tipo de componentes para veículos ( amortecedores, calços de travão, carretos de caixa, discos de embraiagem, entre muitos outros) a SIS é uma das responsáveis pela motorização dos segmentos sociais mais baixos do interior do país. O baixo preço dos seus produtos, a robustez e simplicidade dos seus modelos, estão na origem deste sucesso- note-se que em Portugal circulam cerca de um milhão de veículos de duas rodas, e que a maior parte deste número pertence a modelos de 50cc de produção nacional.
Tal como a GP1, a RE50 recebeu os novos motores Sachs refrigerados por água, e uma nova reformulação estética.
Necessidade de inovação.
A contínua evolução verificada em todos os sectores de motociclos e ciclomotores obriga a uma constante actualização dos modelos, sob risco de estagnação que poderá conduzir, a curto prazo, ao fracasso comercial. E esta permissa é válida mesmo para uma firma como a SIS, que possui uma vasta faixa do mercado nacional de ciclomotores. Foi assim que, a marca de Anadia procedeu à actualização de alguns modelos, dotando-os de argumentos mais válidos face à concorrência.
Rompendo com a tradição, a SIS equipa a Diva com o moderno Cagiva 50 de seis velocidades.
Diva: Uma boa surpresa.
A imagem que os produtos da SIS-Sachs têm junto de alguns sectores do público não é das mais favoráveis, um pouco pela sua realização estética, e também por culpa dos seus utilizadores que, graças às suas transformações de índole "racing", despertaram um sentimento de antipatia pelo ruído ocasionado pelos seus veículos. Foi a pensar numa imagem mais actual, estética e tecnológicamente, que a SIS lançou a Diva. E, com este modelo, a casa da região centro, mostra-se mais ambiciosa, procurando a sua parte junto da faixa de mercado tradicionalmente reservada às marcas japonesas e italianas. Recorrendo habitualmente às motorizações da Sachs, a SIS rompeu com a tradição e virou-se para os italianos da Cagiva. Desta forma, garantiu um dos propulsores mais avançados da categoria, o mesmo que equipa a Cagiva Cocis, o que lhe proporcionou uma boa base de trabalho para o modelo que viria a baptizar com o nome de Diva. A Diva possui todos os argumentos necessários para uma "cinquenta" minimamente competitiva. Assim, o monocilíndrico é arrefecido por água, a admissão é controlada por lamelas e feita directamente ao cárter, o que não acontece, por exemplo, com os motores japoneses desta cilindrada. A caixa é de seis relações e a travagem está confiada a dois discos, um em cada roda. O arranque é eléctrico (possuindo também pedal de arranque do lado esquerdo) e futuramente, está prevista a montagem de uma carenagem integral. Esteticamente, a Diva rompe radicalmente com os anteriores modelos da SIS. A sua linha é bastante mais moderna e poderá, ainda, vir a ser melhorada com a introdução, como disse atrás, de uma carenagem completa.
Aspecto do osciloscópio utilizado no teste de volantes magnéticos.
O vermelho foi a cor escolhida e, todo o conjunto ganharia imenso se os actuais espelhos fossem substituídos por outros idênticos aos que estão montados na Cagiva Mito. O guarda-lamas traseiro cobre grande parte da roda, enquanto o dianteiro faz o mesmo em relação às bainhas do garfo. As jantes são de alumínio e de três braços, estando pintadas de branco. O ecrâ de carenagem é opaco, estilo Ducati Paso, e o farol dianteiro apresenta um formato rectangular. As tampas laterais são fixas com parafusos. Inferiormente surge um "spoiler" de motor, construído em fibra, que cobre toda a parte inferior da moto, onde se destaca o motor pelas suas reduzidíssimas dimensões. Na parte traseira, encontra-se uma pega para o passageiro. Futuramente, os plásticos deste modelo serão fabricados em moldes onde o polímero é injectado, o que garantirá um melhor nível de acabamentos. Sob o assento, temos acesso directo à caixa dos fusíveis, bateria, caixa de ferramentas e depósito do autolube.
A RE 50 SW recebeu uma semi-carenagem e nova decoração.
A instrumentação é bastante completa, incluindo conta-rotações, disposto em posição central, velocímetro, totalizador de quilometragem e indicador da temperatura do fluido de arrefecimento. Estas informações são complementadas com um conjunto de luzes avisadoras que assinalam a reserva de autolube, piscas, luzes, máximos, reserva da gasolina e ponto-morto. Bastante completo, como podem ver. Nota negativa para os punhos, muito ásperos, para o formato do depósito, que talvez pudesse ser um pouco mais estreito por forma a permitir um melhor encaixe das pernas com todo o conjunto, e para os comandos, nomeadamente para a colocação do "passing" e do comando de enriquecimento da mistura. A posição de condução é muito desportiva, obrigando o condutor a inclinar-se para diante, carregando os punhos e ante-braços com algum peso. Apesar de ser uma desportiva, o espaço para o passageiro é bastante generoso e o assento confortável. O motor, como atrás ficou dito, é idêntico ao da Cocis. No entanto o carburador de 14mm da moto italiana, deu o seu lugar a um Dell'Orto de 20mm na Diva. A caixa de lamelas é maior e o escape é nacional, fabricado pela própria SIS. O quadro, um duplo berço construído em tubo de aço de secção rectangular, é fabricado pela marca de Anadia, utilizando seis pontos para a fixação do motor. O poisa-pés, incluindo os do passageiro, são revestidos com borracha. Contrariamente ao que seria de esperar, atendendo a que a marca o utiliza noutros modelos, o sistema de suspensão traseiro é de acção directa, servindo-se de um amortecedor fabricado pela Sebac.
Travão de disco e semi-carenagem que, futuramente, será substituída por uma versão integral.
Na traseira da Diva sobressai o guarda-lamas de desenho muito aerodinâmico.
"Rolling"
Foi muito breve o contacto que tivémos com a Diva, mas suficiente para confirmar a boa impressão que o pequeno "mono" da Cagiva já havia deixado desde os ensaios com a Cocis. De facto, este motor parece só se sentir bem nos altos regimes, entrando dentro do "red line" com toda a facilidade, sem mostrar quebra de potência. A caixa apresenta relações muito pouco espaçadas entre si, obrigando a um bom aproveitamento para manter o motor sempre na rotação ideal. Na cidade, o seu carácter pontudo torna a condução um tanto exigente dado que as passagens de caixa são uma constante. A SIS reclama 6,4 cavalos às 8.100rpm para este motor, suficientes para colocar a Diva a 100km/h, mas 1500rpm já dentro do "red line". Boa impressão deixou o sistema de travagem, em particular o dianteiro, que permite travar forte, mesmo em zonas de piso ondulado, o que põe em destaque as boas características de suspensão do garfo telescópico montado na dianteira. Sem dúvida que a Diva pode vir a dar que falar entre as pequenas cinquenta, dadas as qualidades do seu motor e o cuidado posto na concepção da moto pelos responsáveis da SIS.
A GP1 50 SW possui um ecrâ de carenagem elevado, mas a sua protecção aerodinâmica é algo deficiente.
GP1 50 SW: Água faz a diferença.
A GP1 50 SW é uma derivada da conhecida MVM GPR, apontada por muitos como o ponto de viragem dos produtos nacionais, dadas as boas relações existentes entre a firma de Poutena e a SIS. A anterior versão da GP1 50, utilizava um motor refrigerado por ar que, nesta versão denominada de SW passou a ser equipada com o novo monocilíndrico Sachs refrigerado por líquido ( o W é a inicial de "water"- água). A fiabilidade dos motores Sachs é verdadeiramente impressionante, sendo habitual verem-se motores com mais de dez anos de utilização diária, a funcionar em perfeitas condições. Para estas novas motorizações, a SIS anuncia uma potência máxima de 6,25cv/7100rpm (8,32cv/9100rpm na RE), sendo de referir que ambos utilizam mistura. O carburador é um Bing de 21mm e o sistema eléctrico é, ainda, de 6 volts, mas os responsáveis da marca esperam alterar a instalação eléctrica dos futuros modelos, para funcionar com uma diferença de potencial de 12 volts, o que já acontece com a RE 50 SW. A caixa é de seis velocidades e uma característica que se manteve das anteriores versões, é a tradicional falta de precisão dos engates, com o selector a demonstrar um grande espaçamento entre cada relação. Estéticamente, este modelo não é dos mais felizes e a posição de condução bastante incaracterística, obrigando o condutor a levar o tronco direito e os braços algo descaídos devido ao posicionamento dos avanços. A instrumentação inclui um velocímetro, com totalizador de quilómetros, conta-rotações e luzes avisadoras de piscas, luzes, máximos e pedal de travão traseiro accionado (ainda não percebi qual a sua utilidade!)
Instrumentação bastante completa, a da Diva.
Em andamento.
O motor Sachs arrefecido por líquido mostrou um bom comportamento desde os regimes mais baixos, embora seja pouco ajudado pela caixa de velocidades que se revelou muito imprecisa. As suspensões são bastante flexíveis o que ajuda bastante no mau piso das estradas portuguesas. Atrás, encontramos o sistema de acção progressiva da marca- baptizado de Mono Soft- enquanto na frente surge um garfo telescópico. A moto é "curta" de travões e o comportamento em curva... bom, a inserção em curva é dificil, dando a sensação que não vai ser possível descrevê-la. Talvez seja por eu estar habituado a modelos mais desportivos. Além disso, o "molejar" das suspensões torna impossível curvar depressa, mas a GP1 também não pode ser considerada uma desportiva de raiz.
Sem grandes pretensões desportivas, a GP1 vale pela robustez de todo o conjunto.
RE50 SW: estética diferente.
A mecânica é idêntica à da GPI 50 SW. A RE sofreu diversas alterações relativamente ao modelo anterior que, refira-se, é um dos mais populares da SIS. A estética mudou radicalmente, tendo sido introduzida uma semi-carenagem e alteradas as tampas laterais. O guiador vem equipado com um saco onde se guardam as ferramentas e a decoração tem por base o verde e o branco. As bainhas são protegidas por foles de borracha e as tampas são fixas por intermédio de parafusos. Os punhos montam protectores de plástico e os poisa-pés são revestidos com borracha. O motor tem cotas 40 X 39,7mm, idêntico ao da GP1, e a taxa de compressão é de 10:1, debitando 8,32 cavalos às 9.100 rpm. O sistema eléctrico é de 12 volts, o que não acontece na GP1 A caixa é de seis velocidades e o sistema de travagem está confiado a um disco, na roda dianteira, e um tambôr na traseira. Tive oportunidade de rodar muito pouco com este modelo, mas desde logo sobressaiu um comportamento algo indefinido- principalmente a baixa velocidade- consequência provável de um centro de gravidade algo elevado. As suspensões (garfo Betor e amortecedor traseiro fabricado pela Sebac) revelaram um funcionamento muito honesto, sendo bastante flexíveis e apresentando um curso importante, o que permite à RE enfrentar um caminho de terra, ou o mau piso com todo o à vontade. O raio de viragem é muito reduzido e a caixa revelou alguma imprecisão, como havia acontecido na GP1. A RE50 SW, ganhou 0,7 cavalos, relativamente à anterior versão arrefecida por ar, e viu a sua cara lavada com a introdução de uma semi-carenagem com nova decoração.
O futuro.
Estas são, pois, algumas das novidades de um dos principais construtores nacionais. A tão ambicionada reconversão da indústria nacional parece, finalmente, estar a tomar forma, notando-se uma tomada de consciência por parte dos responsáveis da marca relativamente à importancia de alguns aspectos, até agora menos cuidados, sendo a Diva um bom exemplo disso.
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