"Divagar" se vai ao longe. |
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Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 90. O texto é da responsabilidade de Fernando Pedrinho Martins e as fotos de Photo Course. O site www.motorizadas50.com com a publicação destas reportagens pretende partilhar informações importantes sobre marcas e modelos que infelizmente já não se produzem e que dificilmente voltarão às páginas destas publicações. Se os autores/ responsáveis por estas reportagens acharem que este site ao publicar estes textos está a ir contra os interesses das publicações, enviem por favor um e-mail para motorizadas50@gmail.com que as mesmas serão imediatamente retiradas...
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A Diva viu a sua gama revista e aumentada. A anterior versão deu lugar a duas novas propostas, uma totalmente carenada, a SP, e uma versão "Naked Bike", substancialmente mais barata. Num continuo esforço de actualização e busca de competitividade para os seus produtos, a indústria portuguesa não se poupa a esforços para lograr atingir os seus objectivos, embora haja ainda um longo caminho a percorrer.
A originalidade é o ponto forte da SP mas existe o reverso da medalha: gera alguma polémica, reforçada pela sua cor "triste".
Continuando a lutar mais pela sobrevivência do que pela afirmação ou conquista de mercado, os construtores nacionais têm vindo a apresentar, embora esporadicamente, algumas novidades, das quais um bom exemplo é a nova gama de modelos S.I.S. Diva. Rompendo com a tradição de recorrer a motorizações alemãs da Sachs, a marca de Anadia virou-se para Itália, para o colosso Cagiva- representada em Portugal pela Motozax, uma das empresas do grupo- optando pelo moderno propulsor que equipa de origem a Cagiva Cocis. Dos novos modelos, surge uma nova versão sem carenagem e uma outra "full fairing", que desta forma substituem a primeira versão que dispunha apenas de uma semi-carenagem.
Estilos diferentes.
A Diva SP é a mais ambiciosa, mas simultaneamente a mais polémica. A estética é, sem dúvida, original, assemelhando-se à não menos polémica Gilera CX. A parte dianteira apresenta um perfil adunco, fazendo lembrar o focinho de um tamanduá, com o farol integrado e uma pelicula de plexiglass a separá-lo do exterior. As opiniões de quem viu esta moto forma as mais diversas e houve desde os que gostaram muito até os que detestaram. No entanto a SP é uma moto diferente e chama a atenção por causa disso mesmo. A parte mais desfavorável talvez esteja na traseira, onde as formas demasiado angulosas e "quadradonas" se integram mal no andamento mais arredondado da parte dianteira. A decoração com base no preto e logotipos a encarnado, é algo triste e pouco conseguida, já para não falar na má qualidade dos autocolantes. A versão "Naked- bike" é, quanto a nós, a mais bem conseguida pela sua simplicidade e beleza das suas linhas. Sem qualquer tipo de pretenciosismo, esta moto agrada por isso mesmo, e aqui os estilistas da S.I.S. estão de parabéns. Pintada numa cor mais alegre, encarnado, o destaque vai para o aspecto de moto japonesa conseguindo com a boa arrumação de todos os componentes, com realce para a chapa aparafusada ao quadro e que dá a ideia de se tratar de um dupla trave, um esquema utilizado pela Suzuki com a Wolf 50.
Em termos dinâmicos o seu comportamento é semelhante, sendo a diferença ditada pela má escolha de pneus para a versão descarnada
Equipamento variado.
A SP é a mais bem equipada apresentando um travão de disco na roda traseira e um melhor equipamento pneumático, mas ambas possuem arranque eléctrico. Por outro lado, também a sua instrumentação é mais completa, com destaque para o enorme conta-rotações disposto em posição central, substituido incompreensivelmente, na versão "naked bike" por um termómetro de água. No entanto, há possibilidade de montar um conta rotações (onde?) pois a saída para o cabo não foi retirada e poderá ser aproveitada. Ao nível da instrumentação, a informação é bastante completa na SP, muito embora a qualidade das luzes indicadoras seja muito má, pois parece que se limitaram a colocar um bocado de plástico sobre as diferentes luzes. Na prática, as luzes são muito intensas quando se circula de noite, interferindo na visão do condutor. Na Diva sem carenagem este problema não se coloca, pois aqui foram montadas pequenos circulos de plástico, como é habitual encontrar noutros modelos. A qualidade dos acabamentos surge em plano bastante razoável mas como atrás referimos, os autocolantes da SP poderão ser melhorados.
Primeiras impressões
A posição de condução da SP é mais desportiva, com o condutor a adoptar uma postura ligeiramente mais inclinada para diante e os braços mais flectidos, enquanto na outra versão o tronco fica mais direito e os braços mais esticados. Na primeira, nota-se que esta postura carrega muito peso nos ante-braços e punhos, o que se torna algo desconfortável em pisos mais irregulares, tão frequentes nas estradas do nosso país, e em tiradas mais longas. O assento oferece um bom nível de conforto, quer para o passageiro quer para o condutor e em boa parte ajuda a amortecer a tortura inflingida pelas duras suspensões, além disso, oferece espaço suficiente para os dois. A instrumentação é facilmente legível, embora de noite o ponteiro do conta-rotações da SP "desapareça" e as luzes indicadoras exibam o problema que atrás mencionámos. Por outro lado, ainda não percebemos a razão da existência de uma luz avisadora de utilização do travão traseiro?! Os comandos estão longe de agradar pois a sua disposição não é a mais correcta. Se no avanço direito não há nada a assinalar, o polegar apenas se ocupa do arranque eléctrico na fase de colocação em funcionamento do motor (apenas na SP), na esquerda há a destacar a dificuldade de accionamento dos piscas e do comutador de máximos que muitas vezes obriga a "apalpar" terreno para ver onde se encontram os referidos comutadores. O corta- circuitos funciona por pressão, em lugar do habitual interruptor. De origem está montado um comando para enriquecer a mistura, mas este não funciona, sendo esta missão entregue a uma patilha ligada ao corpo do carburador. No que toca aos comandos a Diva descarnada difere da SP: no punho direito não existe qualquer comando, enquanto no esquerdo se reunem a buzina, comutador de luzes, arranque eléctrico e piscas. Na SP um ponto positivo diz respeito à integração no canhão de ignição da tranca da mesma e do interruptor de luzes, que para ser accionado apenas é necessário rodar a chave no sentido horário, enquanto que na "naked" nem sequer existe tranca de direcção.
Linhas bastante simples e actuais que decerto vão agradar a toda a gente, caracterizam esta versão.
Motor.
Ambas as versões utilizam o mesmo motor que deriva da Cagiva Cocis, embora este tenha recebido algumas alterações em relação á versão original. Este é um moderno propulsor que aos poucos tem vindo a dar provas de uma grande fiabilidade, algo que até aqui não era apanágio da maior parte das mecanicas italianas. Os seus argumentos são convincentes e em nada diminuem a Diva face à concorrêcia. Assim, o monocilíndrico a dois tempos arrefecido por água apresenta também lubrificação separada e admissão controlada por lamelas. Apresentando um curso superior ao diâmetro, 44mm contra 38mm, a cilindrada atinge 49,9cc e a potência declarada para este propulsor de origem Cagiva é de 6,4cv/8100rpm, cifra que na prática parece não corresponder à realidade, como adiante veremos. A maior novidade diz respeito à troca do carburador original de 14mm, que equipava a Cocis, por um Dell'Orto PHBH20, que trouxe a este motor uma nova alma nos regimes mais altos. A caixa, de seis velocidades, apresenta um bom escalonamento, exceptuando-se o espaçamento entre a primeira e a segunda que é muito grande. O arranque é eléctrico, embora também se possa fazer por intermédio de um pedal colocado do lado direito.
Ciclística.
O quadro é um duplo berço conío em tubo de aço de secção quadrada, embora na versão sem carenagem a colocação de duas chapas dê a impressão de se tratar de um dupla trave. No capitulo das suspensões a marca recorreu à Sabec para equipar as Diva, na frente com uma forquilha telescópica e atrás com um sistema monoamortecedor de acção directa. Para travar estas duas versões, recorreu-se, em ambos os casos, a um travão de disco na roda dianteira, com pinça de pistões contrapostos, enquanto atrás na SP encontramos, também, um travão de disco que é substituído por um tambor na versão desprovida de carenagem. No capítulo do equipamento pneumático, a SP surge equipada com Michelin 2,75 x 16, na frente, e 3,25 x 16, atrás, mas o mesmo já não acontece na "Naked" onde os Michelin dão lugar a uns duvidosos Viking Meteor 2,75 x 16, em ambas as rodas e de perfil que inspira pouca confiança.
A hora da verdade
É chegada a hora da verdade, de ir para a estrada e ver o que valem estas duas versões de um modelo que é dos mais recentes da indústria nacional. O motor entra em funcionamento à primeira, com grande facilidade, mesmo depois de um longo periodo sem funcionar. De pronto nos apercebemos do ruído estridente, tão característico das motorizações italianas e que em regimes mais elevados chega mesmo a incomodar. O nível de vibrações é reduzido, notando-se apenas alguma vibração de elevada frequência nos regimes mais elevados, mas cuja intensidade não é suficiente para incomodar o condutor.
O motor da Diva é ja vosso conhecido, pois é o que equipa a Cagiva Cocis, diferindo apenas do carburador utilizado, um Dell'Orto PHBG 20, que não alterou significativamente o seu comportamento pontudo.
O carácter deste motor é muito pontudo e algo enigmático. Logo após os primeiros quilómetros se nota que a relação final é extremamente curta, basta atentar nas dimensões da roda de coroa. O pequeno e compacto monocilíndrico revela três dases distintas de comportamento: abaixo das 7500rpm mostra-se amorfo, sem qualquer reacção, passando a responder com maior vivacidade, como que acordando da sua letargia e "explodindo" quando a agulha do conta-rotações atinge as 9000rpm, início da faixa vermelha, sendo capaz de fazer rotação até ás 12000rpm, em sexta e em recta! Em termos práticos, a faixa em que o motor melhor se exprime encontra-se dentro da faixa vermelha, isto quer dizer que se queremos andar depressa teremos de fazer o motor sofrer, com consequências que a longo prazo poderão não ser as melhores.
Os intrumentos da Diva descarnada resumem-se ao essecial, embora o termómetro da àgua pudesse ser substituído por um útil conta-rotações
Por estranho que possa parecer quanto mais elevado é o regime mais vontade em fazer rotação parece demonstrar, a tal ponto que às 11500rpm o nível de vibrações diminui consideravelmente. A solução poderá estar no alongamento da relação final, mas aí o fosso entre primeira e segunda será ainda maior, obrigando a uma maior utilização da embraiagem, e à mais pequena inclinação do terreno seremos obrigados a passar caixa. O motor é de facto pontudo e nem mesmo com a montagem de um carburador maior o seu carácter se modificou, necessitando de um trabalho mais aturado ao nível dos diagramas de distribuição e ao nível do escape e da admissão. A caixa revelou-se bem escalonada em ambos os modelos, embora haja a assinalar o excessivo espaçamento entre a primeira e a segunda e o falso ponto morto existente entre a quinta e a sexta, particularmente evidente na versão desprovida de carenagem. A embraiagem, por cabo é dura, embora a sua resistência à fadiga seja espantosa, mesmo depois de sujeita a uma utilização abusiva.
...Ao contrário da SP, bastante completa neste aspecto pecando apenas pela intensidade das luzes avisadoras que podem chegar a incomodar.
Comportamento.
A SP oferece uma razoável protecção aerodinâmica ao seu condutor o que, obviamente, não acontece com a "naked". Onde dá mais gozo guiar estas motos, principalmente a SP, é em estradas sinuosas com curvas encadeadas, onde a utilização da caixa é uma constante e o bom comportamento da ciclística permitem algumas brincadeiras, ganhando terreno para a versão "naked" apenas por esta não possuir pneus à altura da sua ciclística, já que quadros e suspensões são iguais. As suspensões, ou não fosse uma moto nacional, são muito duras e pouco progressivas, dando um tratamento aos antebraços e punhos em mau piso dignos de rolo de massa. A travagem é o ponto mais forte da SP, tendo os dois discos revelado potência e uma fantástica progressividade, o que não sucede na outra versão pois o tambor traseiro é ineficaz e o dianteiro, na nossa moto de ensaio, foi afectado por uma fuga de óleo numa das tubagens. Esta moto sofre ainda da reduzida secção dos seus pneus e do mau perfil dos mesmos, o que se traduz por uma maior insegurança em curva, o que já permite à SP afastar-se, como já foi referido. Em ambos os casos, o comportamento do equipamento pneumático em estrada molhada foi deplorável e nestas vale mais não sair de casa. Uma boa mudança seria a adopção dos pneus da SP na versão descarnada, o que sem dúvida aumentaria a eficácia em curva. Ambas as motos são extremamente ligeiras e muito maneáveis, o que se paga com uma grande instabilidade ao vento lateral, particularmente na SP, mas a rapidez com que estas motos se despacham de curvas mais apertadas é invejável.
Prestações.
Graças ao seu menor peso, a "nake bike" é mais rápida nas acelerações deixando a SP para trás. No capítulo da velocidade máxima a SP é cerca de um a dois km\h mais rápida, devido à sua melhor aerodinâmica, e nalguns casos chegámos a rodar bem perto dos 110km/h (120km/h no velocimetro). Como termo comparativo, podemos adiantar que uma Yamaha RZ 50 LC, por exemplo, é ligeiramente mais veloz em velocidade de ponta, mas que uma Honda NSR ou uma Yamaha TZR 50 já fazem jogo igual com estas duas Diva. As "reprises" são decepcionantes, mesmo para uma cinquenta, pois o motor é bastante pontudo e abaixo das 7000 parece "desligar" de tudo o que se passa no mundo real. A vantagem vai para a "Naked" pois é mais leve. No tocante a consumos, a média em estrada situou-se na casa dos 3,5L/100km, para a SP, e em cidade ou com duas pessoas, atingimos os 4,0L/100, com esta nova versão, valores muito similares aos da outra versão, que se quedaram pelos 3,7L/100km. Isto significa que a sua autonomia varia entre uns impressionantes 525km e uns estonteantes 600km com apenas um depósito! Não se esqueçam que estes depósitos têm capacidade para 21 litros de gasolina super (98 octanas)- já estou a ver muitos proprietários de modelos "sete e meio" e "mil" roídos de inveja.
Duas novas produções nacionais utilizando o mesmo propulsor e a mesma ciclística; As diferenças situam-se na estética, equipamentos e preço.
Passageiro.
O passageiro dispõe de um assento espaçoso e minimamente confortável, mas é muito castigado em mau piso devido à dureza das suspensões. Além disso, vibrações de alta frequência emanadas do motor afectam os seus poisa-pés assim como o assento. O passageiro possui ainda uma pega posicionada atrás do assento.
Preço.
Quinhentos contos é quanto custa a SP (497.250$00) o que pensamos ser muito dinheiro por esta moto, perfectível em vários aspectos. Além disso, este é um preço pouco competitivo face à concorrência que por pouco mais oferece mais qualidade e um nível prestacional idêntico ou até superior. Quanto à "naked bike", o preço é ligeiramente mais baixo, tendo em conta que possui menor equipamento e é desprovida de tantos plásticos como a SP, podendo ser adquirida por cerca de quatrocentos contos, 397.800$00, para ser mais preciso.
Conclusão.
A indústria nacional está no bom caminho e a pouco e pouco os seus produtos têm vindo a evoluir. Se o texto acima parecer algo castigador para estas duas Diva, gostariamos de adiantar que não foi esse o nosso objectivo e que apenas pretendemos indicar os pontos mais fracos de cada modelo numa perspectiva de futura correcção. Estas duas "deusas" são motos competitivas e bastante interessantes, mas apesar disso ainda há um longo caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito à obtenção de componentes de maior qualidade e de maior eficácia. .A SP apresenta linhas originais que, por um lado, mostram que os construtores nacionais estão a trabalhar e a caminhar em boa direcção, por outro vem abrir um novo caminho que precisamente pela sua originalidade vai criar alguma polémica e dividir os gostos, enquanto a "naked bike" joga pelo seguro, com linhas que apesar de não trazerem nada de novo, agradam a toda a gente e até acompanham a onda de revivalismo que se vive neste momento no mundo das motos.
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