É preciso renovar.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto é da responsabilidade de Gabriel Penedo e as fotos de Jorge Morgado.

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A SIS-Sachs Minor foi o segundo veículo produzido pela marca portuguesa que sucedeu a Bamby, na qual se baseou.

 

Os primeiros veículos de duas rodas fabricados pela SIS datam da década de 50. Dos modelos de então até ao recente GP1 com motor de 75cc, destinado ao mercado exterior, esta fábrica nacional está repleta de sucessos comerciais de onde sobresai a V5.

Hoje, a SIS- Sachs parte à conquista de novos mercados além fronteiras na espectativa de fazer frente a modelos oriundos de outros países, no que respeita à classe de 75cc, com a SIS-Sachs GP1. Apresentamos esta novidade mas aproveitamos ainda a ocasião para rever a história da empresa e a sua actual gama de produtos.

 

 

Damos hoje continuidade ao trabalho sobre a indústria nacional iniciado na nossa edição nº88 com a Anfesa. Depois da marca de Alcobaça visitámos a Macal e, agora, é a vez de lhe darmos a conhecer a Sachs ou melhor a SIS-Sachs- Veículos Motorizados Lda., uma das mais antigas e conhecidas marcas de veículos de duas rodas.

Falar dela é falar de uma parte da nossa história e da nossa indústria neste sector. Fundada em 1953 por Joaquim Simões Costa dedicou a sua atenção ao fabrico de veículos de duas rodas capazes de cumprir com eficiência as necessidades diárias do utilizador.

Dessa forma produziu a Bamby cuja base era semelhante ao de um ciclomotor com um quadro melhorado que cumpria, ao mesmo tempo, a função do depósito de combustível. O motor monocilíndrico a dois tempos de 50cc possuia caixa automática o que facilitava o seu uso por uma grande faixa de mercado. Mas as suspensões eram inexistente e logo surgiu a Minor 502 com forquilha telescópica na frente e dois amortecedores atrás. O motor continuava a ser automático, mas estava coberto. O aspecto deste modelo era bem diferente do anterior. Já possuia depósito próprio para combustível e a grelha de porta-bagagens traseira era mais estética. Para quem o desejasse, era possível adaptar ainda um cesto metálico por cima do farol dianteiro. O seu aspecto em nada invejava às actuais produções do género. E estávamos nos anos 50!

 

 

 

Um dos modelos com mais sucesso, a SIS-Sachs V5 ainda hoje circula nas nossas estradas.

 

 

Sucesso comercial.

 

 

No entanto, o modelo que constituiu um verdadeiro sucesso comecial foi a V5. Ainda hoje é possível observar esse modelo, actualizado ao longo do tempo, nascido há 27 anos. O  motor era a sua principal arma e foi esse elemento mecânico que construiu a reputação da marca ao longo dos anos.

Hoje, a gama de modelos da SIS Sachs não está apenas apoiada nas estradistas. Conforme demos conta aos nossos leitores na edição nº45 de Motojornal ( Dezembro de 1987) o fabricante nortenho conta com a RE50, máquina para uso misto no asfalto e no todo-o-terreno. Apenas para uso na estrada (mas sempre postas à prova pelos seus utilizadores noutras situações) as SIS-Sachs Lotus Special e Fuego fazem parte dessa gama cujo topo é ocupado pela GP1.

 

SIS Sachs GP1.

 

 

Em tudo semelhante à MVM GP1 de 1988, esta SIS, com carenagem integral, poderá constituir o principal trunfo da marca entre as estradistas de pequena cilindrada de fabrico nacional. Por enquanto a sua carenagem ainda é em fibra de vidro mas num futuro próximo sofrerá alterações nas suas linhas e será fabricada em plástico.

Por enquanto a unidade motriz que a equipa é de 50cc mas a SIS prevê a sua comercialização, já no proximo ano, na versão de 75cc para o mercado espanhol, tal como a MVM está a fazer com um modelo muito semelhante mas com motor Fantic, de origem italiana.

Nesta nossa deslocação à SIS-Sachs foi possível tomar contacto, embora breve, com a GP1. O novo desenho previsto para a carenagem por certo trará, estética melhorada. Não só o volume da carenagem será menor como a colocação dos dois espelhos retrovisores ficará melhorada.

Apesar de tudo, a silhueta da actual versão é atraente e fora do vulgar entre a produção nacional. O painel de instrumentos possui todas as informações necessárias para um motociclo desta cilindrada.

 

 

 

Com a GP1 a SIS apresenta um modelo atraente para o nosso mercado de 50cc que será ainda comercializado em Espanha na versão de 75cc.

 

 

 

Tivemos oportunidade de conduzir a Morini com variador automático numa altura em que a SIS estuda várias decorações para o nosso mercado.

 

 

 

A Lotus Special mostrou robustez no breve contacto que estabelecemos com este modelo.

 

 

 

Uma curiosidade de 50cc com caixa de duas velocidades de 1957.

 

 

 

Já nossa conhecida a Trail RE50 apresenta pequenas alterações com vista à sua comercialização em Espanha.

 

 

A posição de condução transmite uma sensação de facilidade não só pelo depósito, que permite o encaixe perfeito das pernas, mas também pelo assento e manetes que permitem uma posição do condutor inclinada para a frente sem que o peso recaia em demasia sobre os braços.

Em andamento, o conjunto oferece bastante estabilidade e o motor é agradável de conduzir desvendando todos os seus segredos a partir das 6000rpm. Refira-se que às 8000rpm, próximo do "red line", o velocimentro marca os 100km/h e o motor não denota esforço.

Tanto este modelo como a RE50 serão a "testa de ponte" do fabricante nacional em Espanha...

Para tanto este último recebeu novas tampas laterais e pequenos retoques que fazem lembrar as inúmeras Rieju que nas estradas do país vizinho. O painel de instrumentos na versão espanhola é diferente pois inclui conta-rotações e todas as informações estão noutra disposição. Para além destes pormenores, e do motor de 75cc, não existem alterações de vulto pelo que remetemos o leitor para o contacto desta máquina publicado na edição já citada de Motojornal.

 

 

 

Para os mais pequenos a LEM, também da responsabilidade da SIS Sachs, apresenta vários modelos entre os quais este de três rodas

 

 

 

Mas também existem de duas rodas para as faixas etárias entre os 6 e os 12 anos.

 

 

 

De uma forma simples mas harmoniosa eis as informações do painel de instrumentos da Morini com variador.

 

 

 

Outro modelo com bastante procura no nosso mercado continua a ser a SIS-Sachs Fuego.

 

 

 

É nesta sala que nascem todos os projectos da SIS.

 

 

Conservadoras.

 

 

Os dois restantes modelos da gama SIS, a Fuego e a Lotus Special, são mais conservadores nas suas linhas e continuarão em produção. A sua procura persiste e o fabricante continuará a responder às solicitações do mercado.

Mas nem só da sua produção vive a SIS-Sachs. O fabricante nacional importa os motociclos das marcas Morini e Lem, esta ultima dedicada à pequenada (idade entre os 6 e 12 anos). Possui ainda uma quota maioritária na Motozax que como é do conhecimento geral importa para o nosso país as marcas italianas Cagiva, Ducati, Husqvarna e Morini.

 

 

 

Num futuro próximo a GP1 passará a possuir carenagens e tampas laterais em plástico em vez da actual fibra de vidro.

 

 

Variador automático.

 

 

Se bem estão lembrados a Motojornal apresentou a linha das Morini, no ano passado, constituída por um modelo com motor de caixa automática ou de duas velocidades engrenadas pelo pé esquerdo. Surge agora uma terceira versão que possui variador automático. Nada de complicado. Através da força centrifuga uns pequenos pesos deslocam-se e obrigam um correia de borracha a percorrer uma peça cónica consoante a rotação do motor e assim transmitir a potência de forma linear.

 

 

 

Despida de depósito, banco e carenagem a GP1 mostra um quadro monotrave e um monocilindrico a dois tempos de 50cc.

 

 

 

Aspecto do alçado lateral esquerdo do motor da Morini com variador automático.

 

 

 

Estas são as peças que constituem o variador automático da Morini Variant.

 

 

 

A Morini também possui um modelo com caixa de duas velocidades.

 

 

 

Painel de instrumentos resumido na Morini de duas velocidades.

 

 

Segundo a ficha técnica este motor possui maior binário em relação à versão anterior ( 0,6 em vez de 0,4 kmp às 5000rpm), maior velocidade de ponta e ainda capacidade de arrancar em plena subida tanto com uma como com duas pessoas de forma apreciável. Isso mesmo tivémos oportunidade de constatar numa subida bastante acentuada próxima das instalações da SIS-Sachs. Ficámos com a impressão de ser este um modelo apto para uso citadino não só pela desenvoltura do motor mas pela sua maneabilidade, uma vantagem importante entre o trânsito citadino.

 

 

Para os mais pequenos.

 

 

Diz o ditado "De pequenino é que se torce o pepino". É precisamente para os pequeninos que a LEM comercializa em Portugal, através da SIS, dois modelos. O primeiro ( MX 2L), destinado a uma faixa etária entre os seis e os oito anos, possui motor monocilíndrico a dois tempos de 50cc de caixa automática e pesa 28kg enquanto o segundo (MX 3L) possui as mesmas características com excepção da suspensão traseira melhorada já que se destina à faixa etária entre os oito e os doze anos, portanto a pilotos mais altos e mais pesados. Completam a gama da LEM duas versões, para as mesmas faixas etárias, de três rodas ( Safari BX e BXG).

Terminada que estava a ronda pela gama de motociclos comercializada pela SIS, iniciámos a visita às suas instalações, tomando contacto directo com todos os seus departamentos desde o armazém à pintura, passando pelo gabinete de projectos e pelo controlo de qualidade. Essa viagem é objecto de outro texto nas páginas que se seguem.

 

A SIS-Sachs vista por dentro..

 

 

Inaugurada em 1953 a SIS-Sachs passou por várias fases na sua história. As actuais instalações foram inauguradas em 1971 mas desde os primeiros anos até aos nossos dias os sucessos comerciais reforçaram o nome da marca no panorama nacional dos fabricantes de veículos de duas rodas.

Eis, em resumo, a evolução desta marca que hoje aponta para o mercado europeu.

 

 

 

O Eng. Costa Manão interlocutor interessado que nos deu a conhecer os projectos da SIS-Sachs.

 

 

Logo após a nossa chegada à SIS-Sachs fomos recebidos pelo Eng. Manão Costa que, como sempre, se dispôs a prestar todos os esclarecimentos sobre os modelos ou a fábrica em si. Mas, de uma forma quase informal, acabámos por abordar vários assuntos referentes à indústria nacional, à competição e à história da própria Sachs.

Ficámos então a saber que o primeiro veículo de duas rodas motorizado ali produzido tinha o nome de Bamby. Muito simples obrigou à construção de outro modelo mais aperfeiçoado para fazer face às necessidades do mercado. As suas linhas tinham já os princípios base dos actuais modelos do género e se tivermos em conta que todo o trabalho fora realizado exclusivamente pelos técnicos da casa fácil será compreender o orgulho que ainda hoje a fotografia desse modelo suscita nos responsáveis da marca nortenha.

 

 

 

Aspecto das instalações fabris da marca nacional. Aqui, o banco onde todos os modelos saídos da linha de montagem são testados.

 

 

A produção foi alargada a outros modelos de que referimos uma curiosidade. Com o nome Aprilia surgiu um modelo de 50cc, com ar majestoso, muitos anos antes do nascimento da marca italiana com o mesmo nome que tem hoje considerável sucesso no mercado das duas rodas.

Dado que o motociclo era ( e continua a ser) o meio de transporte mais utilizado no interior do país a SIS adaptou alguns dos seus modelos para as necessidades do público. Assim nasceu a Road Gigante na versão para queijeiros com um enorme grelha porta-bagagens em relação ao modelo normal.

Mas o sucesso, no verdadeiro significado da palavra, foi conquistado pela V5, uma máquina que ainda hoje circula nas nossas estradas. Marcou uma era na pequena cilindrada de fabrico nacional.

Em 1971 foram inauguradas as actuais instalações com a presença dos mais altos dignatários do Estado. Quatro anos mais tarde a SIS voltou a chamar a atenção sobre si ao iniciar a produção dos seus próprios motores de cinco e seis velocidades, até ali comprados ao exterior.

 

 

 

Fabrico dos quadros, uma das secções com mais mão de obra.

 

 

Em 1982, após acordo com a Motopeças, iniciou a montagem das Yamaha DT 125, uma das máquinas com mais sucesso da sua classe. Hoje possui uma linha de estradistas para o mercado nacional com a GP1 a ocupar o topo. Nas trail a RE50 oferece uma opção válida. Este mesmo modelo existe ainda na versão de 75cc, tal como a GP1, para comercialização no mercado espanhol. Para já a sua venda naquele país está assegurada na Andaluzia, Catalunha e Nordeste sendo de esperar a extensão a outras zonas importantes como a de Madrid. Para além deste país a SIS-Sachs está a orientar parte da sua exportação para a República Federal Alemã, Noruega e Estados Unidos, embora neste ultimo com pouca expressão.

Os responsáveis da marca estão confiantes no futuro. Iniciaram um processo de formação profissional, com fundos da CEE, por forma a obter mão de obra mais qualificada. Mas a mão de obra foge. "A indústria cerâmica da zona, com salários mais altos, atrai muitos trabalhadores. Alguns até decidiram montar as suas próprias empresas. Só este ano sairam cerca de 60 pessoas".

Com um total de 280 trabalhadores, entre pessoal dos quadros até ao simples soldador, a SIS reconhece a importância do mercado potencial que constituem as ex-colónias portuguesas. "A Angola é um mercado potencial que quando acordar poderá ser importante para quem chegar primeiro", referiu o Eng. Costa Manão. Esta poderá ser uma das saídas para a marca portuguesa que encara com seriedade a integração europeia e os seus obstáculos.