Metalurgia Casal: Uma realidade no progresso nacional.

Esta reportagem foi integralmente retirada de uma revista Motojornal dos anos 80. O texto e as fotos são da responsabilidade de Jorge Morgado e Sousa Ferreira.

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Na sequência de visitas já programadas às diversas fábricas de motos existentes no nosso país, fomos desta vez ao encontro da Metalurgia Casal, onde tivemos oportunidade de ver «in loco» todas as suas potencialidades assim como os problemas mais prementes que a indústria enfrenta em geral.

Antes de nos referirmos pontualmente aos vários capítulos desta visita, pensamos que os principais fabricantes de motos em Portugal se debatem com problemas comuns - falta de poder de compra dos utilizadores deste meio de transporte, de certa forma agravado à má imagem que ainda está na mente de muitas pessoas; problema dos créditos às empresas que necessitam de reconverter as antiquadas linhas de montagens assim como na aquisição de nova tecnologia; recessão na venda de motorizadas no mercado interno, consequência da crise económica que atravessamos; e finalmente falta de dimensionamento de algumas fábricas, que segundo nós, poderá ser o resultado dum certo proteccionismo que o Estado deu e dá a determinadas empresas, o que levou a uma certa letargia dos principais industriais deste sector.

 

No caso concreto da Metalurgia Casal, que para não fugir à regra, enfrentou vários problemas, consequência do que já foi dito, com a agravante de no ano de 1975 ter feito um esforço financeiro enorme, com as implicações que esta acção acarretou, esforço esse, no sentido de alargar a sua capacidade de produção assim como fazer face ás novas exigências que o mercado impunha.

A conquista de novos mercados, a nível europeu, de mais difícil acesso, fundamentalmente resultante da grande concorrência existente das principais marcas europeias e japonesas, e dos mercados africanos, nomeadamente dos países de expressão portuguesa, estão na mira dos responsáveis da Casal, tendo esta marca já satisfeito diversos pedidos de encomendas daqueles países africanos.

A abertura de linhas de crédito de acordo com o que nos foi dado a perceber não tem funcionado bem, o que em termos de exportação tem tido efeitos negativos para a marca.

Parafraseando um "slogan" publicitário, muito em voga, lançado pelos responsáveis do nosso país «Produzido em Portugal - compre produtos portugueses», poderemos adiantar que a Metalurgia Casal, talvez melhor que nenhum outro, cumpre à risca esta frase de promoção dos produtos nacionais. Queremos dizer com isto, que a Casal, é com certeza o fabricante que com a maior incorporação nacional, consegue fabricar as mais diversas máquinas e os mais diversos modelos.

Para sermos mais precisos, adiantaremos que à excepção dos componentes eléctricos, «pistons» e carburadores, todos os restantes componentes das motos são fabricados integralmente na empresa. Com tecnologia própria a Casal, segundo nos informaram já se encontra numa fase de venda de «Know-How», a outros países menos evoluídos.

Ainda recentemente durante uma visita efectuada por uma missão estrangeira à fábrica, foi afirmado por consenso geral, que a Metalúrgia Casal é equiparada às suas congéneres europeias

 

Fabricação de peças de fundição:

 

Para a obtenção final destes produtos, passa-se, logicamente, por todo um processo de transformação de matérias-primas que, após um primeiro exame de controlo de qualidade, na recepção da fábrica, são submetidas à fundição, forjagem ou transformação no sector de produção por aparas de aço, quando se trate de ligas de alumínio, aço, ou aços perfilados, respectivamente.

Após a última reestruturação operada na Metalurgia, o seu sector de fundição passou a utilizar os seguintes processos:

- Fundição em areia endurecida «pep set»

- Fundição em coquilha de aço.

- Fundição em baixa pressão.

Neste caso, para garantir a qualidade da liga, foi adquirido um sistema computarizado que permite a análise até 13 elementos da liga de alumínio, garantindo assim a qualidade das peças fundidas.

 

Sector da forjagem:

 

Para além de forjarem todas as peças das máquinas produzidas na Metalurgia, actualmente, para aproveitarem ao máximo toda a capacidade excedentária deste sector, estão a vender este serviço para outras empresas. O material entra em varão, depois é cortado por uma guilhotina automática, passando posteriormente á zona de forjagem, de balancete ou por prensa hidráulica com aquecimento por indução electromagnética. Depois desta operação todos os materiais são recozidos onde as tensões são normalizadas em fornos especiais. Tivemos ocasião de ver as várias fases de forjagem de cambotas, bielas, rodas de embraiagens e eixos de mudanças.

Para concluir poderemos afirmar que nesta secção nasce o motor das motorizadas.

 

Sala do Curso de Reciclagem de Mecânicos.

 

Após este sector, visitámos o sector de fresagem, sector de rectificação e sector de tornos automáticos, onde acompanhámos as diversas fases da feitura dos diversos componentes das máquinas.

Concluiremos que o motor Casal é feito integralmente nesta fábrica, à excepção dos elementos já referenciados.

Ainda em relação aos motores poderemos dizer que a fábrica Casal foi a escolhida para a fabricação de determinado motor, aliás sobejamente conhecido, para a sua comercialização no estrangeiro mais propriamente na Suiça. Poderá ser eventualmente uma prova de confiança nos recursos técnicos e de qualidade da Metalurgia. Até à data já foram exportados cerca de 500 destes motores e no próximo mês de Dezembro, serão exportadas mais 300 unidades. Para o ano de 1984 a produção destes, irá certamente atingir um milhar de unidades.

Visitámos também o sector que produz as ferramentas necessárias para a feitura dos motores e dos veículos. É a produção própria das ferramentas da Casal. Algumas delas foram inclusivamente concebidas por técnicos nacionais.

 

Aspecto do Centro de Formação Profissional.

 

Centro de formação profissional:

 

Em termos de médio e longo prazo, terá sido este o departamento que mais nos impressionou, pois a continuidade, altamente técnica, dos operários está totalmente garantida, através da formação de jovens trabalhadores com o 9º ano de escolaridade, durante um período de três anos de aprendizagem.

Esta iniciativa deve-se essencialmente ao protocolo assinado entre a Metalurgia, o Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação..

Refira-se ainda que todos os trinta jovens que estão incorporados neste Centro de Formação Profissional, durante o seu curso são devidamente remunerados, podendo no final do curso optar ou não na sua permanência ao serviço na Metalurgia.

Entre as especialidades contidas neste curso contam-se as de frezadores mecânicos, torneiros mecânicos, torneiros de manutenção, rectificadores mecânicos e mecânicos. Os resultados destes cursos, segundo nos informou o responsável deste sector, têm sido bastante animadores, estando neste momento em execução uma acção junto dos Ministérios para fazer reavivar o objectivo de sempre da Casal, ou seja, a oficialização destes cursos.

Como curiosidade todos os alunos que tiveram aproveitamento positivo no final dos três anos, têm-se mantido ao serviço da Metalurgia. Da equipa de monitores, cinco ao todo, a opinião é de que uma verdadeira formação profissional tem que ser feita de ligação entre a empresa e a escola, isto porque as pessoas já se encontram adaptadas ao espírito das empresas. O desaparecimento das escolas técnicas contribui largamente para a falta de pessoal especializado.

A Casal produz actualmente cerca de 200 motores por dia, estando prevista para o próximo ano a fabricação de 6000 unidades de 125cc.

 

Fases da construção do motor.

 

Departamento de competição:

 

Como não podia deixar de ser a Casal, investe em termos publicitários, auxiliando os desportos motorizados a nível de competição. Durante este ano os responsáveis da marca, apostaram no Karting, onde o motor Casal tem dado boas provas. Esta experiência, segundo nos informaram serviu de aprendizagem para futuras acções noutros desportos motorizados, concretamente no «motocross» e na velocidade.

Neste capítulo, foi referida a má compreensão da Federação Portuguesa de Motociclismo, ao iniciar as classes de 80cc, tanto a nível de «motocross» como de velocidade, depois dos fabricantes portugueses terem feito estudos na classe de 50cc, para poderem competir em pé de igualdade com as outras marcas. Refere-se ainda que mesmo a nível europeu, nem todos os países, optaram pela classe de 80cc. No entanto estamos em condições de adiantar que o desenvolvimento do novo protótipo de 80cc tem realizado testes animadores, de molde a poder lutar pelos primeiros lugares. Em relação a nomes a apoiar directamente pela fábrica, foi-nos revelado que no próximo ano, não irão ter um piloto de fábrica, mas sim dar apoio, principalmente a nível de peças e componentes, a pilotos que irão correr com máquinas Casal.

Em termos de «motocross», o piloto que em principio irá usufruir mais apoio da Casal, será Carlos José Lameira.

Para finalizar pensamos que estão lançadas todas as condições, caso a recessão económica não aumente, para que a Casal venha a ser dentro de pouco tempo uma realidade em termos de progresso tanto a nível nacional como a nível internacional.

 

A nova «bomba» para 84.